Entre os partidos do Centrão, o PP e o PR sempre se sobressaíram no mercado em que se troca apoio político por cargos e verbas públicas. Assim, construíram e mantiveram feudos em todos os governos e bons postos na Câmara e no Senado. Em um de seus mais emblemáticos desempenhos, sugaram o governo Dilma até horas antes da votação do impeachment enquanto vendiam o apoio ao grupo de Michel Temer.
Todos esses nacos de poder passaram a ser ameaçados com a opção de Jair Bolsonaro de montar o primeiro escalão do governo sem o tradicional toma lá, dá cá. Mais até que os outros partidos, PP e PR sabiam que estavam na alça de mira. Sequelas da campanha eleitoral em que o senador Ciro Nogueira e o ex-deputado Valdemar Costa Neto pintaram e bordaram com os presidenciáveis e na hora H deixaram na mão Ciro Gomes e o próprio Bolsonaro.
O governo precisa dos votos dos dois partidos, principalmente na Câmara, para aprovar sua agenda de reformas. Daí seus articuladores políticos, sob a batuta do ministro Onix Lorenzoni, terem incluídos os líderes José Rocha (PR) e Arthur Lira (PP) no páreo para a liderança do governo na Câmara. Bolsonaro simplesmente os ignorou e escolheu o major Vitor Hugo (PSL-GO), um novato na política que, a exemplo de boa parte do governo, tem no currículo formação na Academia Militar das Agulhas Negras.
Além do que estão perdendo na máquina federal, PP e PR lutam para manter seus espaços na Congresso. No Senado Ciro Nogueira tem apostado suas fichas em Renan Calheiros. Se vencerem, vão ter cacife para negociar com o governo. Na Câmara, o PR manteve a aliança com o favorito Rodrigo Maia e o deputado Jacobo como candidato à reeleição para a cobiçada Primeira Secretaria, uma espécie de prefeitura parlamentar. Depois de esticar a corda, o PP de Arthur Lira perdeu o lugar na chapa de Rodrigo Maia para o PSL, partido de Bolsonaro. Buscou compensações, como a relatoria da Comissão de Orçamento, mas também não conseguiu emplacar.
Abriu, então, uma dissidência no Centrão. Lira tenta montar uma chapa alternativa com Fabinho Ramalho (MDB) e o PTB de Roberto Jefferson, que surpreendeu ao não aderir à ampla coligação de Rodrigo Maia. Essa chapa pode virar uma opção para o PT, que ficou meio isolado depois que Gleisi Hoffmann, sem maiores consultas, descartou apoio a Rodrigo Maia. Mesmo contrariando uma parte da bancada, Gleisi e a cúpula do PT parecem não se incomodar em, se for o caso, apenas marcar posição.
O PP, não. É mais pragmático. Se a tal chapa alternativa tiver chances razoáveis de vitória, contrariando os atuais prognósticos, ele vai até o fim. Caso contrário, Arthur Lira pode usar esse movimento para se cacifar e conseguir um acordo com o próprio Rodrigo Maia.
A conferir.