Até o julgamento do Mensalão, em 2012, quando pela primeira vez caciques políticos foram condenados por formação de quadrilha, corrupção e lavagem de dinheiro, o STF mal entrava no radar do establishment político. A partir daí, cresceu o interesse das lideranças partidárias pelo processo de escolha de novos ministros para o tribunal, e virou uma verdadeira obsessão após as megas investigações sobre corrupção puxadas pela Operação Lava Jato.
Em 2017, com a morte de Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, os interesses e as especulações correram soltos em Brasília. Os ministros do STJ, penúltimo tribunal de Teori, fizeram uma disputa particular, como se o cargo fosse uma reserva de mercado para eles. Todos contavam com padrinhos políticos poderosos. Outros postulantes corriam por fora. Entre eles, Ives Gandra Filho, então presidente do Tribunal Superior do Trabalho, tido como o candidato in pectore de Michel Temer.
Como já contei aqui, quem conhecia o caminho das pedras bateu à porta de José Sarney, o melhor oráculo sobre o Judiciário. Queriam saber quem, entre tantos candidatos, poderia ser o escolhido. Sarney respondeu que nenhum deles. E explicou:
— Michel não vai cometer o mesmo erro de Lula e de Dilma. Não vai escolher alguém que, depois de chegar lá, diga que não deve a nomeação a ninguém.
Diante do espanto dos interlocutores, Sarney cravou: Vai ser o careca.
Bingo. O careca Alexandre de Moraes chegou lá.
Parece que vai ocorrer o mesmo na sucessão do decano Celso de Mello que, em novembro, perde a toga na aposentadoria compulsória. Há uma acirrada disputa pela vaga. O interesse dos caciques políticos é evidente — o escolhido deve ir para a Segunda Turma do STF que julga os recursos de investigados, réus e condenados pela Lava Jato. Há vários candidatos no páreo. Alguns se apressaram em mostrar serviço, como o procurador-geral da República, Augusto Aras, e o ex-presidente do STJ João Otávio Noronha, ambos elogiados publicamente pelo presidente Bolsonaro, que os citou como fortes candidatos a uma vaga no Supremo. Mas quem parecia ter largado na frente é o atual ministro da Justiça, André Mendonça, que atenderia ao exótico critério colocado na praça por Bolsonaro de um nome “terrivelmente evangélico”.
Mas o jeito cordato de André Mendonça não está lhe ajudando nesse páreo. Para a cozinha palaciana, ele perdeu terreno na gestão do tal dossiê sobre professores e policiais antifascistas, produzido por um órgão do Ministério da Justiça. Ali, sua conduta foi avaliada como vacilante diante dos questionamentos da imprensa e de ministros do STF.
Se faltava algum pretexto para queimar de vez o filme do ministro da Justiça, não falta mais. Conta Mônica Bergamo que líderes do Centrão, o novo xodó do presidente, teriam dito a Bolsonaro que André Mendonça não suportaria “meia hora de Jornal Nacional”. Quer dizer, não aguenta pressão de jornalistas, pecado mortal para Bolsonaro que continua em guerra permanente com a imprensa. A única dúvida nessa história é se a iniciativa foi mesmo do Centrão ou eles simplesmente cantaram uma pedra soprada por palacianos.
Nesse tipo de disputa, em que a decisão depende apenas da preferência do presidente, o favorito costuma sair de cena enquanto seus concorrentes se digladiam. Parece ser o caso do ministro Jorge de Oliveira, chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, que herdou do pai a total confiança do clã Bolsonaro. De todos os postulantes, ele é o único que se enquadra ao novo critério que o presidente que, segundo Monica Bergamo, o presidente tem revelado a interlocutores: alguém que, no fim de semana, tome cerveja com ele.
Jorge Oliveira sempre foi um ás no baralho de Bolsonaro. Na equipe de transição, a expectativa de quem olhava de fora era de que Gustavo Bebianno daria as cartas nas escolhas do ministro da Justiça ( caso não fosse ele próprio), do procurador-geral da República e dos dois ministros do STF com as aposentadorias de Celso de Mello e Marco Aurélio Mello. Uma fonte que acompanhava o processo me disse que não seria bem assim. Bebianno teria que se entender com o discreto e influente Jorge de Oliveira.
Tudo indica que está chegando a hora de Jorge de Oliveira trocar os bastidores pela ribalta.
A conferir.