Faz tempo que todo nordestino é chamado de “paraíba” por gente metida a engraçadinha no Rio de Janeiro. São pessoas que tentam disfarçar esse e outros preconceitos em nome de um suposto espírito carioca. Jair Bolsonaro, por exemplo, sempre que censurado por alguma grosseria, costuma dizer que sua piada foi mal entendida. Escapa por um tal humor de caserna. Às vezes, nem isso é possível.
Na sexta-feira, enquanto se preparava para a entrevista com correspondentes estrangeiros, Bolsonaro foi flagrado em um comentário em off sobre uns tais governadores paraíba. Depois da divulgação dessa fala, gravada pela próprio governo, ele perdeu o rebolado. Não tinha como dizer que foi mais uma piadinha. Atribuiu a opositores e a mal intencionados em geral a interpretação de um tom pejorativo aos nordestinos. Desde então tenta virar o jogo.
Seu entorno identificou como uma boa oportunidade a inauguração nessa terça-feira (23) do Aeroporto Glauber Rocha, em Vitória da Conquista, na Bahia. Era uma festa programada em conjunto com o governo do petista Rui Costa, talvez um momento de distensão em meio a acirrada guerra entre Bolsonaro e a ala mais moderada do PT. Foi tudo pelos ares.
O que seria um gesto civilizado de inauguração de uma obra feita em conjunto por adversários políticos — comum em todos os governos, inclusive na ditadura militar –, virou uma guerra insensata. Os petistas baianos, em minoria entre os convidados para a festa, pediram uma participação maior. O Planalto, que virou dono da cerimônia, aumento um tiquinho e dobrou o número de seus próprios convidados.
Com receio de ser hostilizado, Rui Costa pulou fora da festa. Lamentou que a inauguração de um aeroporto regional poderia ter sido uma comemoração exclusiva do governo baiano, mas, em um “aceno de boas maneiras”, convidou o presidente e sua comitiva. Sem a menor cerimônia, eles tomaram conta da festa.
O que poderia ser uma saia justa entre as duas administrações não parece causar incômodo no Palácio do Planalto. O entorno de Bolsonaro comemora de antemão o fato de ter torcida única na solenidade de inauguração do aeroporto em uma grande cidade baiana administrada por aliados. “Em qual cidade nosso presidente chega e não é ovacionado? É em todas. E não seria diferente na cidade onde temos apreço pelo prefeito e pelo povo”, diz o general Otávio do Rêgo Barros, porta-voz do Planalto.
A turma de Bolsonaro se acha com a bola, as camisas e o campo para começar a virar o jogo da baboseira que falou.
A conferir.