Parece que vai, não vai. Quando parece que empaca, anda. Ou desanda. É assim toda vez que se mexe em um vespeiro chamado reforma da Previdência, aqui e no mundo inteiro. Por todos e quaisquer ângulos, compreensível. Seu avanço costuma ser aos trancos e barrancos. A sucessão de tentativas nos governos FHC, Lula, Dilma e Temer, algumas não deram certo por detalhes aleatórios, só aumentaram o preço da conta.
A reforma de Fernando Henrique não emplacou por causa do voto errado de Antonio Kandir, que foi seu ministro e inspirador de outras reformas liberais, inclusive no governo de Fernando Collor. Lula pagou o preço com uma ruptura em sua base que fundou o P-Sol — turma expulsa do PT pelo braço forte de José Dirceu por não acatar a ordem de votar nas mudanças na previdência propostas pelo governo petista.
A tentativa de Dilma Rousseff se perdeu em seu próprio universo confuso. Mas Michel Temer, com um governo montado num cambalacho entre as forças dominantes no Congresso, quase chegou lá. Foi atropelado na hora H pela matadora denúncia dos donos da Friboi. Teve de trocar o projeto de fazer história com mudanças na Previdência impopulares, mas necessárias, para cuidar da própria pele. Salvar o mandato que herdou no polêmico impeachment de Dilma.
Por motivos variados, uma reforma para valer na Previdência há tempos vem sendo adiada. Nesse maluco vai e vem na política brasileira, a bola agora caiu no colo de Jair Bolsonaro — um deputado que, desde aquela primeira reforma de FHC, sempre foi contra qualquer mexida na Previdência. Fez carreira como um sindicalista dos militares e assemelhados. Com todo esse contexto histórico, mesmo a contragosto, a reforma da Previdência virou o carro-chefe de seu governo, o principal divisor entre o fracasso de sua gestão e a possibilidade de sucesso.
Nem a clareza desse cenário impede que ele jogue contra a sua melhor chance de ter sucesso no governo. Ele não consegue olhar para a floresta, enxerga apenas as árvores que lhe são familiares. É uma sequência de atropelos. Se dependesse só dele, a reforma da Previdência, gestada pela equipe de Paulo Guedes e a turma de Rodrigo Maia, já teria ido para o sal. Sua sorte é que o vento, talvez por falta de alternativa, sopra a favor dessas mudanças.
No começo da madrugada dessa quinta-feira (4), depois de uma longa batalha em que a oposição esticou seu jogo, saiu vitoriosa a estratégia traçada pelo time de Rodrigo Maia. Esgotados os recursos preliminares, o presidente da Comissão Especial da Reforma da Previdência, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), passou a régua. Depois que o relator Samuel Moreira (PSDB-SP) fez os últimos ajustes no seu parecer, Marcelo Ramos anunciou que não se mexe em mais nada, o texto ali fechado é o que será votado hoje na comissão. É uma prova de fogo com os lobbies que não emplacaram.
Mais do que Bolsonaro, com sua gangorra, quem está pondo o cacife em jogo é Rodrigo Maia.
A conferir.