Por circunstâncias da vida, Lula e Donald Trump, personalidades com histórias muito distintas, adotam a mesma estratégia política para escapar do cerco da Justiça. Em condições bens diferentes — Lula na cadeia, Trump na Casa Branca–, mesmo sem serem candidatos nas eleições aqui e nos Estados Unidos nos próximos meses, apostam agora nas urnas em busca de um futuro menos complicado.
Nem em seus pesadelos, Trump se imagina na cadeia. Mas, em variadas frentes, as investigações que podem comprometê-lo ganharam velocidade. Lá como aqui, a palavra final é do Congresso. Trump sabe que só uma catástrofe política produziria, por exemplo, dois terços dos votos do Senado para depô-lo. Sabe também que, pelo andar das apurações, se não tiver maioria na Câmara e no Senado, não há como evitar que essa questão domine a agenda e anule a sua gestão.
Daí, aproveitando os bons fluídos do crescimento do emprego e da economia, Trump tomar a iniciativa de incluir o impeachment na pauta eleitoral. Entrou com tudo. Em entrevista a Fox News, disse que se o derrubarem será o caos na economia. Seu sucesso nas eleições legislativas, ajudando a eleger maiorias republicanas, é sua melhor trincheira contra o perigoso mix de investigações do pagamento com grana de campanha pelo silêncio de garotas de programa a conspirações eleitorais com a pesada turma de Vladimir Putin. Trava essa batalha dando entrevista nos jardins da Casa Branca, símbolo mundial de poder.
Já Lula, cumprindo pena em uma cela improvisada da Polícia Federal em Curitiba, em condições bem piores, também aposta nas eleições para romper o cerco das investigações do Ministério Público e da Polícia Federal — além da condenação em duas instâncias que o tornaram inelegível, ele ainda responde a uma penca de outros processos por corrupção. Além dos caminhos judiciais, incrivelmente contestados até por seus advogados, sobram duas alternativas para ele sair da cadeia.
Uma delas, é a anistia geral a quem foi flagrado, processado e condenado na Operação Lava Jato e em outras investigações sobre corrupção. Essa tal anistia, há tempos é sonho de consumo de caciques políticos de todos os quadrantes, mas até hoje eles ciscaram muito e nada conseguiram. Acenam agora com uma suposta janela de oportunidade entre o fim das eleições e a posse do novo Congresso. Para quem está livre, leve e solto, pode ser mais uma esperança.
Para Lula, preso, pode ser apenas mais uma tentativa em vão.
Barrado pela Lei da Ficha Limpa, Lula aposta todas as fichas na eleição de seu poste Fernando Haddad na expectativa de, independente de todos os malfeitos, ser anistiado como preso político.
O fiel José Dirceu espera por uma carona.
A conferir.