O PT nasceu como uma grande renovação na política brasileira. Alguns pequenos sucessos aqui e ali passaram por alguns testes se as boas intenções do partido correspondiam a sua capacidade de governar cidades, estados e o próprio país. O principal deles foi nas eleições municipais de 1988, em pleno clima de euforia cívica com a Constituinte.
O PT venceu em três capitais. Na capixaba Vitória, com Vitor Buaiz, foi o começo de uma boa experiência que se transformou em um equívoco pelo qual se paga até hoje. O sucesso arrebatador foi a eleição de Luiza Erundina em São Paulo. Trinta anos depois, a gestão de Erundina continua polêmica: alguns a avaliam com um desastre administrativo, outros como modelo de gestão — e de honestidade– que infelizmente não teve continuidade.
A eleição de Olívio Dutra prefeito de Porto Alegre virou marco histórico para o partido. Com o Orçamento Participativo e outras práticas de gestão, o modo petista de administrar na capital gaúcha fez sucesso no estado, no país e mundo afora. Virou passaporte de competência para a histórica campanha presidencial de Lula em 1989.
Essa vitrine petista espatifou. Mesmo sendo a turma do PT menos atingida pelos múltiplos escândalos, a seção gaúcha continua a pagar um preço maior.
Depois do fiasco nas eleições municipais em 2016, de acordo com a pesquisa eleitoral do Ibope, divulgada nessa quinta-feira (13), o PT virou apenas figurante na disputa pelo Palácio Piratini. A disputa é entre o governador Ivo Sartori (MDB) e o tucano Eduardo Leite. O petista Miguel Rossetto, estrela em outras paradas, patina no andar de baixo.
Tarso Genro, Olívio Dutra, lideranças de peso, até tentam se diferenciar da turma que meteu o pé na jaca da corrupção, mas não passam disso. Fazem críticas pontuais, mas não viram a mesa. Estão pagando esse preço. Mais uma decepção para quem sonhou com Porto Alegre como contraponto de Davos.
De acordo com as pesquisas eleitorais, o desempenho do PT país afora, exceto em alguns nichos no Nordeste e em Minas Gerais, é uma soma de fracassos. Mesmo assim, o partido é altamente competitivo na sucessão presidencial. Depois de muitas metamorfoses, o PT se agarra a Lula para tentar sobreviver.
Lula se sente à vontade nesse jogo e cobra lealdade do partido em busca de uma alternativa que o tire da cadeia, onde cumpre pena por corrupção e lavagem de dinheiro. Da cela em Curitiba, ele exige compromissos explícitos para evitar riscos com seus presumidos herdeiros. Não quer errar de novo. No seu entorno avalia-se que ele não estaria passando por tantos perrengues se Dilma Rousseff tivesse lhe devolvido o bastão em 2014.
Daí as amarras que deixam claro que Fernando Haddad, pelo menos nessa entrada na corrida presidencial, é uma espécie de ventríloquo do Lula. Escolhido para representar esse papel, Haddad o assume aparentemente sem nenhum constrangimento. “O Lula não é só uma pessoa, ele encarna um projeto. Quando o encontrei, ele me disse: ´Eles vão fazer de tudo para não deixar você ser candidato. Toma a tocha e diz para o povo que você me representa”.
É isso aí. Haddad pegou um tocha que pode iluminá-lo ou chamuscá-lo.
A conferir.