Na semana passada, ao incluir a morte do colega Ricardo Boechat numa lista de tragédias seguidas vivenciadas pelos brasileiros neste início de ano, cheguei a escrever que 2019 já parecia ter ficado velho.
Mas o que dizer do recém empossado governo Bolsonaro, após a divulgação pela revista “Veja” da troca de mensagens entre o presidente da República e seu agora ex-ministro Gustavo Bebianno?
Lamentavelmente, chega-se à conclusão de que as crises provocadas pelo próprio presidente Bolsonaro e seus filhos conseguiram deixar seu governo velho em apenas 50 dias.
Não dá para culpar o PT, a imprensa, seu vice Mourão, nem o Bebbiano, suposta fonte do vazamento dos áudios trocados com o presidente.
Há de se refletir, presidente!
Os quase 58 milhões de votos que o elegeram não lhe dão permissão para deixar os problemas nacionais em segundo plano, ainda mais para cuidar de crises menores, criadas por disputas internas de gente do seu entorno.
A demissão de Bebianno e a forma como o clã Bolsonaro tratou um dos principais articuladores da candidatura do “capitão” deixou vários parlamentares chocados.
A sensação que ficou foi a de que presidente saiu com a imagem pessoal arranhada e o mito pode estar começando a virar mais um político antigo.
Pior, rumores de que a próxima vítima do clã Bolsonaro será o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, por ter se solidarizado publicamente com Bebianno, podem complicar ainda mais o quadro de desespero de um país que precisa aprovar urgentemente uma reforma da Previdência, se não quiser quebrar.
A exposição das entranhas do governo em praça pública, a falta de uma articulação política eficiente e muito amadorismo podem colocar a perder o clima favorável à aprovação das mudanças nas regras previdenciárias.
E aquilo que deveria ser o trunfo dos eleitores de Bolsonaro, o pacote anti-corrupção do ministro Sérgio Moro, acabou dando margem para insinuações de que o homem que mandou prender Lula teria mudado sua opinião a respeito do crime de caixa dois.
Isso porque a proposta de criminalização do caixa dois foi desmembrada do restante do pacote de enfrentamento do crime organizado.
A avaliação no Legislativo é de que a iniciativa de Moro foi acertada, pois facilitará a aprovação do pacote como um todo, ainda que a criminalização do caixa dois demore um pouco mais.
Mas antes disso, o governo sentiu o primeiro gosto da derrota em votações da Câmara e Senado, que contrariaram o Planalto ao aprovar um decreto legislativo anulando as novas regras que definiriam o sigilo de documentos públicos.
O vice Mourão, que havia assinado o decreto deixado pronto pelo governo Temer, brincou com a imprensa, tentando convencer que ele e não o governo havia sido o derrotado.
Aliás, enquanto Bolsonaro compra briga com a imprensa e acusa a Globo de ser sua inimiga, Mourão ganhou o apelido de “Mozão” entre setoristas da Presidência, pelo jeito solícito que atende sempre as abordagens da imprensa.
O capitão que se cuide para não perder o cargo para alguém de patente maior.