Embora o presidente, agora diplomado, Jair Bolsonaro tenha dito que não pretendia interferir na eleição para as presidências da Câmara e Senado, integrantes do futuro governo e de sua base parlamentar já começaram a se movimentar, sinalizando que não pretendem ficar de braços cruzados diante dessas disputas.
Isso porque o ritmo de votação dos projetos e reformas constitucionais de interesse do Executivo dependerão, em grande parte, da boa vontade e da capacidade de liderança dos presidentes das duas Casas do Legislativo. Eventuais apostas erradas, neste caso, poderão dificultar a vida do governo Bolsonaro.
03 Esse foi o recado que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) — parlamentar veterano que já venceu quatro disputas pelo comando do Senado e é forte candidato para um quinto mandato — ao insinuar em conversas reservadas que o filho do presidente e senador eleito pelo Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro (PSL), deveria se preparar para responder um eventual processo no Conselho de Ética, diante da descoberta de que seu ex-motorista na Alerj (Assembleia Legislativa do RJ) teria movimentado R$ 1,2 milhão no último ano.
O alerta, repassado por aliados de Renan, seria uma resposta ao veto público de Flávio Bolsonaro à candidatura do senador alagoano à Presidência do Senado. Em busca de nomes alternativos à disputa, o filho do presidente chegou a procurar o senador tucano Tasso Jereissati (CE), cuja candidatura ao comando da Casa estaria sendo articulada pelo bloco de oposição que deverá ser formado pelo PPS, Rede, PDT e PSB, e poderá contar 13 senadores, além dos oito votos do próprio PSDB.
Tasso também já foi procurado pela deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP), que tem trabalhado para se consolidar como uma das articuladoras políticas do futuro governo. Ontem o tucano recebeu a visita do futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que passou no seu gabinete onde costuma reunir a bancada tucana todas às terças.
O futuro governo ainda não bateu o martelo e terá de pesar bem as possíveis consequências de qualquer que seja a sua aposta no Senado. O mesmo vale para a disputa na Câmara, onde oito nomes já manifestaram interesse em concorrer à vaga. A começar pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), hoje o nome mais forte para a disputa, embora a ‘super’ representação de seu partido no futuro governo e a ciumeira causada entre os aliados de Bolsonaro tenham reduzido seu favoritismo.
Pode-se perceber que as resistências ao nome de Maia dentro do PSL — em especial do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que teve sua posição vazada em meio a brigas internas com a colega de bancada Joice Hasselmann — já produziram alguns efeitos práticos.
Nesta terça-feira (11), o futuro governo sofreu pelo menos duas derrotas na Casa. Primeiro, com o arquivamento do projeto Escola Sem Partido, considerado uma prioridade por Bolsonaro. A comissão especial que analisava a proposta realizou sua última reunião do ano sem conseguir analisar o texto. O projeto pode ser retomado na próxima Legislatura, mas será necessário iniciar os trabalhos praticamente do zero.
No plenário da Câmara, o governo Bolsonaro sofreu ontem uma outra derrota com a aprovação de projeto que prorroga por cinco anos benefícios fiscais para as regiões Norte e Nordeste e estende os incentivos para o Centro-Oeste. Só o trecho que envolve o Norte e o Nordeste terá um impacto no orçamento de R$ 5 bilhões.