A eleição de Jair Bolsonaro em 2018 escancarou a ignorância (no sentido de desconhecimento) política não apenas por parte da população menos escolarizada, mas, principalmente, por parte daqueles que comandam o dinheiro no Brasil como empresários, banqueiros e investidores.
Sem conhecer as entranhas da política em Brasília, todos caíram como patos nas promessas do falastrão Paulo Guedes de que, sob o comando de Jair Bolsonaro, o Brasil seria o paraíso do liberalismo econômico no mundo.
Apostaram que, com Bolsonaro como presidente, seriam aprovadas todas as reformas estruturais que o país tanto precisa – previdenciária, tributária, administrativa, política. E que as privatizações seriam finalmente uma realidade. Nada saiu do papel, apenas a previdência foi aprovada. Mais por interesse de Rodrigo Maia do que do próprio presidente da República. Enquanto isso, a equipe de Guedes pula fora do barco.
Não menos incautos também foram aqueles que acreditaram que o combate à corrupção era, de fato, uma bandeira de luta do bolsonarismo. E que na nova era, os ataques sistemáticos à Lava Jato cessariam, culminando com as indicações do ex-juiz Sérgio Moro para uma vaga no Supremo Tribunal Federal, e quem sabe Dallagnol à frente da Procuradoria-Geral da República.
Bolsonaro cresceu junto ao eleitorado cansado da roubalheira por não ter figurado entre os investigados dos dois últimos grandes escândalos de corrupção envolvendo o Legislativo: o Mensalão e o Petrolão. A ausência deve-se muito mais à falta de oportunidade do que propriamente a uma convicção.
A explicação é simples: por sua total incapacidade de articulação política, o capitão sempre ficou à margem das grandes discussões envolvendo o Congresso. Nunca apresentou e nem relatou projeto de relevância nacional que pudesse atrair o interesse dos grandes lobbies nacionais. Também nunca exerceu nenhuma liderança, nem presidência de qualquer comissão na Câmara nos 28 anos em que passou lá dentro.
Passados 18 meses como presidente, Bolsonaro provou que o combate à corrupção era só retórica. Moro saiu do Ministério da Justiça atirando e transformou-se, hoje, no inimigo número 1 do presidente da República. Um adversário a ser abatido. Para isso, os bolsonaristas nem se constrangem em apropriar-se das críticas dos petistas ao ex-juiz da Lava Jato para atacar o desafeto nas redes sociais.
Também é sob a gestão Bolsonaro que a Lava Jato vem sofrendo seu maior ataque, com o risco, inclusive, de ver todas as sentenças proferidas até agora contra os corruptos (alguns confessos) serem anuladas. Essa tese foi levantada pelo advogado José Roberto Batochio, em entrevista ao Jornal Valor Econômico da última terça-feira.
A união dos três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – tendo como aliado máximo o próprio Procurador-Geral da República, Augusto Aras, indicado por Bolsonaro, pode transformar a maior operação de combate à corrupção do País em poeira. E fazer com que os heróis de ontem, sejam os réus de amanhã.
Voltado a questão econômica, os donos do dinheiro poderiam ter sido um pouco mais cautelosos e pesquisado o passado do candidato Jair Bolsonaro antes de apostarem todas as fichas em sua eleição. Nem precisava ser um Sherlock Holmes para saber que o capitão sempre foi contra a pauta liberal.
Agora, assistem atônitos Bolsonaro levar o país a um populismo barato em busca da reeleição e as reformas, todas, sendo jogadas na vala do esquecimento, junto com a economia do País.