Até a madrugada desse sábado (8) nenhum pio de qualquer um dos falastrões do clã Bolsonaro sobre a revelação, pela revista Cruzoé, dos depósitos feitos por Fabrício Queiroz na conta bancária da primeira-dama Michelle Bolsonaro serem muito superiores ao até aqui admitidos pelo presidente da República. Nessa mesma sexta-feira também se soube que a mulher de Queiroz, Márcia de Oliveira Aguiar, depositou grana na conta de Michelle. O casal presidencial também se calou sobre isso. Somados são mais do que o dobro dos supostos empréstimos da primeira explicação de Jair Bolsonaro.
Fabrício Queiroz, amigo do presidente e ex-assessor de de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa, quando operou o esquema de rachadinha que virou um pesadelo para a família Bolsonaro, está em companhia de sua mulher e parceria de negócios Márcia em prisão domiciliar. Uma situação provisória que pode ser revogada semana que vem quando volta ao batente o ministro Felix Fischer, relator do caso no Superior Tribunal de Justiça.
Pule de dez para quem acompanha o dia a dia no STJ é a aposta de que Fischer vai revogar a esdrúxula decisão do ministro João Otávio Noronha que mandou o casal Queiroz para a casa. Ele volta para a cadeia e ela, que estava foragida, também vai para a prisão. Queiroz escolado em sua vivência no Exército, na Polícia Militar e relações com as milícias no Rio, não tem perfil de abrir o jogo do que sabe. Diferente de Márcia Aguiar, tida como um fio solto nessa história.
É esse contexto que assombra os Bolsonaros. O presidente da República fazia ameaças diárias contra outros poderes até a prisão de Fabrício Queiroz na casa em Atibaia de Frederich Wassef, o até então prestigiado advogado dele e do filho Flávio Bolsonaro. A partir daí, baixou o tom, passou a pregar a conciliação na Praça dos Três Poderes e assumiu a relação com o Centrão, um grupo de partidos no Congresso Nacional sempre dispostos a negociar o apoio a todo e qualquer governo.
Ganhou um respiro até essa sexta-feira quando vieram à tona novos depósitos na conta da primeira-dama. Durante todo o dia a expectativa era de que Bolsonaro dissesse alguma coisa. Contestasse os dados que o desmentiam, por exemplo. Ou alegasse falha de memória em suas explicações anteriores, uma delas frente a todo ministério, como reação aos tiros disparados na demissão de Sérgio Moro.
Bolsonaro entendeu a saída de Moro como pista livre para seus sonhos autoritários. Já responde no STF pela acusação de tentar intervir na Polícia Federal. Sua reclamação, na já famosa reunião ministerial em 22 de abril, de que queria um serviço de inteligência na máquina pública para chamar de seu está na berlinda. Também a bisbilhotagem de adversários políticos pelo desvio de função de um orgão de inteligência no Ministério da Justiça, que deveria ter como alvos o crime organizado e a pedofilia, está na mira do Congresso e do STF.
Até agora também não falou nada sobre isso. Bolsonaro se tornou famoso pelo bate pronto nas respostas, mas surpreendentemente passou a medir as palavras. E a falar menos, depois de seus espetáculos diários com os fãs na porta do Palácio da Alvorada. Impressionante a capacidade de Queiroz de emudecer o presidente da República. Até quando?
A conferir.