Por históricas fotos de Orlando Brito, pode-se observar uma singular mudança no Palácio do Planalto de um dia para o outro. Na véspera de ser afastado do cargo, e começar a espera do julgamento de seu impeachment pelo Senado Federal, Fernando Collor foi fotografado em sua mesa de trabalho — solitário e com o semblante de derrotado, em um cenário, com charuto cubano no cinzeiro, imagens de São Francisco e de Nossa Senhora, tendo ao fundo um globo com mapa-múndi e a capa que estrelou na revista Newsweek, em seus tempos de glória.
Como mostra o segundo registro de Orlando Brito, não havia mais nada disso um dia depois quando Itamar Franco se preparava para sentar na cadeira presidencial, cercado de assessores e fotógrafos. Permaneceram os grandes cinzeiros, naqueles tempos peças de decoração e uso obrigatórios em todos os gabinetes, mas sem o charuto e também sem a estilosa máquina para cortá-los. Não sobrou vestígios pessoais de que ali Collor despachava.
Afastada pelo Senado, Dilma Rousseff levou de seu gabinete no Palácio do Planalto fotos e todos outros objetos pessoais. Quem hoje frequenta lá diz que o novo inquilino, Michel Temer, ainda não decorou seu ambiente de trabalho. Alguns ministros contam também que nunca o viram sentado na cadeira presidencial, são sempre recebidos para conversas nos três sofás e na ampla mesa de reuniões.
Interpretam como cuidados de Temer em respeito à liturgia do poder, como a decisão de manter as fotos de Dilma nas paredes dos gabinetes do Palácio do Planalto e das demais repartições públicas. Afinal, por enquanto Dilma está apenas afastada e ele ainda é interino. Sua desenvoltura em outras áreas do governo seriam o dever de não paralisar o país. Mas, mesmo as principais mudanças, só devem ocorrer quando se tornar presidente efetivo.
Essa é uma explicação. Mas há outra. De uma maneira geral, mesmo sendo profundamente pragmáticos, os políticos são cismados. Quem convive com eles ouve o tempo todo expressões como sorte e azar. Talvez seja pelo hábito de sempre estarem jogando na loteria do voto.
Entre outras superstições, uma das que mais assustam é a crença de que quem antes do tempo senta na cadeira corre sério risco de perder o lugar. Talvez o exemplo mais famoso seja o de Fernando Henrique Cardoso, que, certo da vitória, na véspera da eleição fez pose para fotos sentado na cadeira de prefeito de São Paulo. Perdeu a eleição para Jânio Quadros. Como velha raposa na política, Michel Temer sabe que seguro morreu de velho.