Na política, vaca voa, tosse, pede votos

Matarazzo, agora vice de Marta.

Mestre em esperteza política, José Bonifácio, o Zezinho, ex-presidente da Câmara dos Deputados durante a ditadura militar, tinha sempre uma tirada na ponta da língua, grande especialidade de outros conterrâneos mineiros como José Maria Alkimin. Bonifácio também era pródigo em diagnósticos sobre que o político pode ou não fazer.

Dizia, por exemplo, que se podia falar muito mal de adversários na rua, mas não devia repetir as mesmas críticas em casa. Na sua opinião, a esposa, por exemplo, tende a achar que uma inimizade é para sempre, e tem dificuldades para entender que o ferrenho adversário de ontem pode virar o melhor aliado de hoje.

Nesses tempos em que tudo virou um Big Brother, a palavra dada é também recolhida em uma velocidade surpreendente. A presidente afastada Dilma Rousseff adorou repetir na campanha eleitoral que não faria isso ou aquilo “nem que a vaca tussa”. Passada a eleição, a vaca tossiu e Dilma fez o que disse que não faria.

Talvez pela vocação agrícola do país, políticos adoram usar vacas como exemplo.  Em seus tempos de Senado, Iris Rezende dizia que o menos esperto de seus colegas no Parlamento desenhavam uma vaca na parede… e a ordenhava.

Há poucas semanas, o vereador Andrea Matarazzo, depois de 25 anos no ninho tucano, filiou-se ao PSD de Gilberto Kassab. Ele trocou de partido porque perdeu para o empresário João Dória as prévias no PSDB para a escolha do candidato à Prefeitura de São Paulo — uma vitória do governador Geraldo Alckmin sobre o grupo do ministro José Serra.

Em entrevista após assinar a ficha de filiação ao PSD, Matarazzo foi taxativo: “É mais fácil uma vaca voar do que eu ser vice na chapa de Marta Suplicy”. A vaca de Matarazzo, descendente da elite industrial, voou.

Como disse Chico Buarque de Holanda nos versos da divertida letra de “Boi voador”: “O Boi ainda dá bode/ Qual é a do Boi que revoa/ Boi realmente não pode voar à toa”.

Mas é assim que a política funciona no mundo inteiro. A política na Europa virou um barata voa. Nas convenções partidárias americanas, o senador Bernie Sanders, que conquistou a juventude com sua pregação contra Wall Street, faz uma ginástica verbal para apoiar Hillary Clinton, a queridinha da elite tão criticada. A sorte dele é que o adversário é Donald Trump, um histriônico que os próprios republicanos estão tendo que engolir.

 

 

 

 

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