Chernobyl pode ser uma boa dica para você assistir durante a quarentena.
Trata-se da minissérie inglesa lançada em 2019 e apresentada pelo canal HB0. Ganhadora do prestigiado prêmio Emmy 2019 nas categorias de melhor minissérie, melhor roteiro e melhor direção, Chernobyl conta ainda com nada menos que 14 indicações ao prêmio Bafta/2020.
A série retrata, em cinco episódios, o famoso e catastrófico acidente da usina nuclear de Chernobyl, ocorrido em abril de 1986.
Para quem, assim como eu, tem apenas a lembrança de uma enorme nuvem de fumaça preta e pouquíssimas informações sobre os trágicos acontecimentos que sucederam a explosão ocorrida na década de 90, a minissérie pode ser bem interessante, pois revela detalhes e nuances políticas da explosão que abalou o planeta.
A produção é muito bem feita e reproduz, com mínimos detalhes, o interior da usina IV, foco do acidente, e seu complexo painel de controle. Além disso, narra os acontecimentos que sucederam a explosão: evacuação das áreas próximas, redução de danos, contenção dos efeitos da radiação, reflexos sociais, disputas de interesses, processos judiciais, contexto político.
O antes, o durante e o depois do trágico acidente nos são passados pelas lentes de Valery Legasov, o cientista russo que é convocado pelas autoridades russas para organizar e liderar o processo de contenção e descontaminação do ambiente, papel interpretado pelo excelente ator Jared Harris.
Cenas bem-feitas, ótimos atores, imagens impactantes, mas o essencial, nesse momento, são as inevitáveis correlações que a minissérie suscita em nossa mente em relação ao momento atual, imersos que estamos em uma tragédia de âmbito mundial, cuja extensão e consequências ainda não foram divisadas ou mensuradas.
Impossível não relacionar os desdobramentos da tragédia de Chernobyl com a desorientação e o desamparo que estamos vivendo, decorrentes da condução duvidosa e errônea da epidemia sanitária da covid-19 em nosso país. Impossível também não relacionar Chernobyl às tragédias recentes de Mariana e Brumadinho.
Trinta e cinco anos se passaram desde que aquela imagem de fumaça cinza-escura percorreu todos os noticiários do planeta e se imortalizou em nossas mentes.
Trinta e cinco anos para lembrar e relembrar que acidentes e tragédias muitas vezes não são simples acidentes e que tragédias podem ser evitadas ou, ao menos, minimizadas. E que dependem da junção de ciência, vontade política, informação e recursos.
Para mim, o que a série carrega de especial é a oportuna reflexão sobre o amálgama entre ciência e política, esse viés delicado, que carrega verdades e, muitas vezes, mentiras, segredos de estado e até patifarias. Com efeitos devastadores.
* Eliane de C. Costa Ribeiro é juíza do Trabalho aposentada (Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região)