O Robocop de Michel Temer

Ministro Alexandre Moraes. Foto Orlando Brito

A grosso modo, ciborgue é um cara meio humano, meio máquina. Um dos mais famosos, sucesso de público e de crítica, é Robocop, espécie de policial exemplar, sobretudo pela eficácia. Depois de seu desempenho como porta-voz da Operação Hashtag da Polícia Federal, que prendeu um suposto grupo de terroristas no Brasil, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, ganhou de colegas do governo o apelido de Robocop.

Alexandre é um personagem peculiar. É constitucionalista de mão-cheia, um dos mais citados em votos no Supremo Tribunal Federal, mas adora ser chefe de polícia. Destacou-se, assim, ao comandar como Secretário de Segurança Pública, a maior e mais equipada polícia do Brasil, a de São Paulo.

Depois de José Eduardo Cardozo, que passou meio incomodado pelo Ministério, mas encontrou seu melhor papel como advogado da presidente afastada Dilma Rousseff, a Polícia Federal parece encantada com o estilo do novo ministro. O que se ouve por lá é que Alexandre de Moraes se comporta e fala como chefe. Essa postura lhe dá ibope em parte do governo. Mas é criticada por outra banda.

Isso ficou evidente na operação contra o suposto grupo terrorista. Alexandre Moraes sentiu na pele o chamado fogo amigo. ” Teve dedo de dentro do Palácio do Planalto para desqualificar a operação, mas, exagerada ou não, ela era necessária”, avalia um colega de ministério.

Há no governo divergências inclusive sobre essa necessidade. Na avaliação da Abin, bastava monitorar essa ” célula amadora”, e, se preciso, tirá-la discretamente de campo. Não só por alimentar receios no Brasil e lá fora, mas para não estimular perdidos de vários naipes a fazer loucuras.

A turma da Abin pode até ter razão. Mas eles sempre implicaram com a Divisão Antiterrorismo da Polícia Federal. Desde que ela foi criada que ouço críticas: “A inteligência é eficaz quando não vira notícia; polícia adora ser manchete”, é a mais recorrente. A disputa ficou ainda mais acirrada quando o delegado Paulo Lacerda, um ícone na PF, virou chefe da Abin. Mesmo sendo habilidoso, Paulo Lacerda era um estranho no ninho. Do mesmo jeito que os policiais federais receberam a nomeação do procurador da República Eugênio Aragão para o Ministério da Justiça.

Como em todos os centros de poder mundo afora, mais do que qualquer autoridade formal, valem em Brasília os códigos usados em seus bastidores e subterrâneos. Com eles, travam-se batalhas tão ou mais intensas que as disputas políticas sob holofotes do dia a dia.

 

 

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