Bolsonaro tem se divertido nas últimas semanas, acompanhado de centenas de seguidores. Animados e grosseiros. Tanto os homens quanto as mulheres. Em São Paulo, uma senhorita levou para a manifestação pró-Bolsonaro um taco de beisebol que poderia ter quebrado algumas cabeças e feito picadinho de capacete de PM.
Os happenings políticos acontecem aos domingos, na frente do Palácio do Planalto, com a chegada de um batalhão de automóveis. Os manifestantes se colocam em frente da rampa de acesso. Provocam os repórteres perguntando, aos gritos, em que lixo eles trabalham. Lixo, para eles, é jornal ou televisão. Imprensa em geral.
O presidente alegre, sem máscara, sem coronavírus, cumprimentando a todos, já participou de quatro desses happenings. Curioso é que os manifestantes são adeptos de mais de uma pátria amada: são adoradores das pátrias amadas Brasil, Estados Unidos e Israel. Todos com bandeiras, formando o incrível trio Bolsonaro, Trump e Netaniahu.
Sempre bem disposto, Bolsonaro surpreende os participantes. Já chegou de helicóptero, de carro, andou de cavalo, deixando um soldado da PM a pé. Desce pela rampa agitando os braços e o povão entra em êxtase. Na praça dos Três Poderes, num desses domingos, enfermeiras faziam manifestação em favor do tratamento do coronavírus e uma delas quase foi agredida por uma bolsonarista, usando uma bandeira brasileira como arma.
O primeiro happening de bolsonaristas foi no quartel-general do Exército, com gritos pelo fim da democracia. Comício em porta de quartel, pedindo o fechamento do Congresso e a prisão dos ministros do STF, além de intervenção militar no governo. Ou seja: nova ditadura. Um fato inédito no mundo civilizado.
Quando a imprensa critica o presidente se defende no dia seguinte de manhã ,no chiqueirinho do Alvorada, espaço onde convivem repórteres trabalhando e fanáticos seguidores do capitão. É só parar o carro presidencial, Bolsonaro desce e começam as entrevistas. Quando se aborrece dá um “tchau pessoal” e, audível ou não, solta uns palavrões. Parece até reunião ministerial.
A novidade no grupo bolsonarista são os imitadores da Ku Klux Klan americana, carregando tochas acesas e com máscaras que impedem sua identificação. O objetivo maior do grupo é assustar os ministros do Supremo Tribunal Federal. Breve, possivelmente, eles vão aparecer a cavalo e com armas nas mãos. E, se facilitarem, tocar fogo no STF. Já houve até ensaio geral, com fogos de artifício.
O presidente participa das manifestações fazendo tudo que não se deve fazer num período de perigosa pandemia. Promove aglomerações, tira máscara, bota máscara, abraça pessoas, estende as mãos. O Brasil é um dos países em pior situação do mundo em termos de combate ao coronavírus. Não tem sequer uma política confiável de combate à epidemia. O sábio Bolsonaro já falou: trata-se apenas de uma gripezinha.
O comunismo é uma relíquia do passado, subsiste em raros países, em convivência pacífica com o resto do mundo. Combater comunismo quando não existe mais comunismo é fácil. Mas Bolsonaro e seu governo vêm comunistas por todos os lados. Acham que a bandeira nacional, nosso auriverde pendão da esperança, corre o risco de ficar vermelha. Só se for de vergonha.
Existe estranha simpatia em alguns setores do governo pelo passado repugnante e assassino dos nazistas. Sem cerimônia. Como o ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim , que parodiou falas de Goebbels em recente discurso sobre… arte. Tem ainda um ministro da Educação que também flerta com as viúvas de Hitler. Embora sua principal sanha seja prender os ministros do STF.
Entre as excentricidades do governo há ainda um negro, Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, entidade cultural, que afirmou serem os negros “uma escória maldita”. No caso, como ele próprio. A Praça dos Três Poderes, paixão de JK, Lúcio Costa, Niemeyer e da população de Brasília, se depender dessa balbúrdia e desse grupo de tresloucados, em breve poderá vir a ter um só Poder. Não eleito pelo povo.
— José Fonseca Filho é jornalista