Em um país com tantos traumas institucionais, a luz sempre é o melhor desinfetante. Ainda mais com os seguidos sobressaltos, causados pelos blefes e ameaças contra a democracia, tendo como protagonistas Jair Bolsonaro e alguns de seus fanáticos seguidores. Tudo isso em plena pandemia mundial do novo coronavírus, que atingiu em cheio ao Brasil, atordoado com a desobediência civil sanitária, apregoada pelo próprio presidente da República.
A transparência foi uma das bandeiras eleitorais de Bolsonaro, que disse começar a cumpri-la com a escolha do então juiz Sérgio Moro para comandar, com carta branca, o superministério da Justiça e da Segurança Pública. Não surpreende promessas de político evaporarem ao léu. O que se espera depois de anos e anos de abertura de caixas pretas, com marcos históricos como o Mensalão e a Lava Jato, é que autoridade alguma se esconda atrás de sigilos, sem justificativa plausível, quando acusadas ou flagradas em delitos.
O próprio Jair Bolsonaro é quem agora está na berlinda. Ele já se esquiva em recursos legais da legítima curiosidade do país em conhecer os resultados de seus testes sobre o Covid-19, mesmo diante da desconfiança de que circula à vontade em aglomerações por ter, com um contágio brando, conseguido anti-corpos para a doença. Essa divulgação pode dirimir a dúvida se é apenas uma conduta leviana ou uma irresponsabilidade criminosa.
Se o trapézio de Bolsonaro pode iludir aos expectadores, a Justiça não deve se pautar por seus desejos e receios. Não há mais sentido para seguir nessa gangorra que, em outros tempos, serviu como biombo à impunidade de poderosos. Não há motivo razoável para o país não conhecer na íntegra as oito horas de depoimento de Sérgio Moro.
É um detalhado roteiro, circunstanciado, feito pelo mais importante juiz federal do combate à corrupção no Brasil, que trocou a toga para entrar como avalista de um governo no mínimo polêmico. E o que ele conta? As pressões de um presidente da República por práticas nada republicanas para proteger a si e a seu clã de investigações sobre uma penca de crimes.
A família Bolsonaro, amplificada por um exército de robôs, diz que Sérgio Moro está mentindo. Essa dúvida não pode ficar nesse ar já irrespirável pelo avanço do novo coronavírus e de hostes antidemocráticas. O ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, tem em mãos um pedido da defesa de Moro para suspender o sigilo do seu longo depoimento. Não há segredo a preservar em um jogo dessa dimensão e natureza.
Se prejuízo houver à honra dos envolvidos é a sua exposição na guerra de versões travada nas redes sociais. Ministro Celso de Mello, jogue luz nessas sombras. É o mínimo que o país espera.
A conferir.