Em sua versão civil, biruta é aquele engenhoso saco cônico de tecido que consegue indicar a direção dos ventos. No jargão militar, é o tubo de lona rebocado por avião para servir de alvo em exercícios de tiro antiaéreo. Em seu afã de correr riscos, na obsessão de provar a si próprio e a outros que é corajoso, Jair Bolsonaro deve se identificar mais com a expressão usada pelos militares da Aeronáutica.
Há menos de duas semanas, em uma aglomeração ao pé da rampa do Palácio do Planalto, para contrariar a orientação de isolamento social da equipe do então ministro Henrique Mandetta, proclamou: “Não tem que se acovardar com esse vírus na frente”, a mesma pandemia que aterroriza todo o planeta, já qualificada por ele como “gripezinha”, “resfriadinho”, “histeria”…
Assim, ele segue se expondo e expondo a todos que o cercam com seu descompromisso com regras básicas recomendadas pelos médicos mundo afora. O que só reforça a desconfiança sobre seus motivos para não divulgar os exames que, segundo ele, deram negativo para o novo coronavírus, inclusive depois do strike do covid-19 em sua comitiva na visita a Miami.
Sua pregação diária pela desobediência civil às recomendações da Organização Mundial de Saúde, do seu próprio ministério, de governos estaduais e prefeituras pelo isolamento social, pode ser uma das causas do crescente retorno das pessoas às ruas. De acordo com os médicos que estão na linha de frente desse combate, o resultado desse não tô nem aí de parte da população são os seguidos recordes de casos de contaminação e de mortes.
Na noite dessa terça-feira (28), ao retornar ao Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro conseguiu a proeza de se superar em seu desdém com o sofrimento da população. Ao ser indagado por um repórter sobre o recorde de mortes, reagiu com deboche: “E daí? Lamento. Quer que faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”. A resposta arrancou risos de apoiadores do presidente que estavam na grade montada diariamente em frente ao Alvorada. Ou foi alertado por alguém ou ele mesmo se tocou que pegou tão mal que ainda tentou consertar com um arremedo.
A leviandade de Bolsonaro perante a pandemia é criticada no mundo inteiro. Outro que também achava que o “vírus chinês” também não passava de uma gripezinha era o seu guru Donald Trump. Ele teve que recuar depois que os Estados Unidos viraram o epicentro da epidemia, com nada menos de um milhão de casos comprovados e quase 60 mil mortes. Com a ameaçada reeleição pela frente, ele agora parece estar querendo distância de seu discípulo brasileiro. Nessa terça-feira, em uma audiência pública com o governador da Flórida, Ron DeSantis, afirmou que o Brasil tomou um rumo diferente, está enfrentando um surto e sugeriu, por duas vezes, suspender os três vôos semanais remanescentes de São Paulo para Miami.
Nada disso sensibiliza Bolsonaro. Ele continua navegando ao sabor dos ventos captados por sua biruta ( versão civil) nas redes sociais. Parece não se dar conta que essa suposta ventania é inflada por um exército de robôs que seguem as ordens de seu chamado Gabinete do Ódio, pelo qual seu filho Carluxo, o 02, está sendo investigado pelo Supremo Tribunal Federal. Esse, aliás, foi um dos motivos da dupla demissão do ministro Sérgio Moro e do delegado Maurício Valeixo, que abriram um rombo ainda não devidamente dimensionado na sua base de apoio.
Mas, e daí? A turma do seu clã familiar parece não está nem aí. Depois que Sérgio Moro saiu do governo disparando um bombardeio, com graves acusações contra Jair Bolsonaro, um descuidado hashtag chegou ao topo no ranking do Twitter. #FechadocomBolsolnaro. O “l” a mais, que sugere a autoria de robôs, viralizou na internet. Pelo que se comenta no STF, a investigação sobre esse esquema de fake news está próxima de ser concluída e deve fazer um strike no entorno do clã Bolsonaro.
A conferir.