Dez dias atrás, Jair Bolsonaro quis mas não teve força dentro de seu próprio governo para demitir o popular ministro da Saúde, Henrique Mandetta, que comanda o combate no país da pandemia do novo coronavírus. A contragosto, ele conteve a caneta. Passou a semana se remoendo. Quando pode, estimulou de forma acintosa a desobediência civil às orientações de isolamento social do Ministério da Saúde. Se o objetivo desse cutucar foi tirar seu ministro da posição de jogar parado, conseguiu. O troco de Mandetta veio na entrevista ao Fantástico.
Jogo jogado, Jair Bolsonaro conseguiu argumentos para convencer o entorno palaciano, inclusive os ministros militares, de que sua autoridade presidencial foi posta em xeque. Deixou de ser a divergência manter ou aliviar o isolamento social, adotar ou não a cloroquina como tratamento oficial, entre outras polêmicas da turma do capitão com os cientistas. Virou questão de hierarquia. Fácil de resolver entre cabeças que a tem como um dos principais valores.
O difícil é encontrar uma alternativa para a Saúde que, além de satisfazer a crença do clã Bolsonaro de que o covid-19 é uma arma chinesa contra a civilização ocidental, consiga, como Mandetta, manter a confiança da população após a troca de comando. Se os especialistas estiverem certos, estamos chegando ao auge dessa epidemia no Brasil. Questão de uma ou duas semanas.
O problema para Bolsonaro já não é mais demitir Henrique Mandetta, é não derrapar na escolha de seu sucessor. Se depender da visão tacanha de Onyx Lorenzoni, cujo horizonte é a eleição gaúcha em 2022, pode até emplacar o deputado Osmar Terra, um médico que endossa o diagnóstico de Bolsonaro de que o novo coronavírus é mais uma “gripezinha”.
O risco de uma opção tipo Osmar Terra é o divórcio total com a comunidade médica e científica. A busca é por alguém com bom currículo médico, mais maleável que Mandetta. O fato é que essa troca na Saúde, em plena guerra sanitária, põe de vez o coronavírus no colo de Bolsonaro. É tudo que o seu mestre e guru Donald Trump quer se livrar.
A conferir.