O jogo dúbio do governo deu certo

Rodrigo Maia, vitória do Planalto. Foto Orlando Brito

Assim é, se lhe parece, a famosa peça do escritor italiano Luigi Pirandello, é sempre lida, encenada e citada com diversos olhares, mas todos realçam algum tipo de contraste entre realidade e aparência.  Essa, digamos, espécie de jogo de espelho é o melhor retrato do que rolou nesta semana na política brasileira, em que o governo Michel Temer deu uma bobeira e, depois, deu a volta por cima.

Vamos aos fatos e às aparências: 1) – Escaldado com episódios passados, a pressão de Eduardo Cunha nos bastidores, e a sensação de que essa turma era imbatível, o Palácio do Planalto endossou a avaliação de que não haveria opção viável fora do chamado Centrão. 2) – A partir dessa premissa, mesmo com todo desgaste na opinião pública, a articulação política do governo adorou se associar à favorita candidatura de Rogério Rosso; 3) — Essa aposta inspirou a postura palaciana de se fingir distante da disputa, confiante de que sua base parlamentar embarcaria em uma alternativa que lhe seria confiável.

Aí começou a confusão. O Palácio do Planalto monitorava os aliados, mas achava que sua própria casa partidária, o PMDB, não era problema. Essa mesma lógica embasou a montagem do ministério. Como a bancada do partido meio que virou terra de ninguém, os insatisfeitos do PMDB resolveram aproveitar a situação. Em um descuido dos governistas, escolheram como candidato Marcelo Castro, um político que, por ter ficado fiel a Dilma Rousseff no impeachment, atrairia petistas e aliados e assustaria o governo. Deu certo.

A equipe de Temer se assustou e resolveu reagir. O time entrou em campo para desidratar a candidatura Marcelo Castro. Percebendo a reação, os aliados de Castro resolveram aumentar a pressão. “Se o Marcelo vencer, para um acerto com o governo, o Geddel terá de sair”, disse, entre outros, o deputado Carlos Bezerra (PMDB-MT).

O Planalto entrou na disputa contra Marcelo Castro, convencendo aliados a abandoná-lo com variadas promessas, inclusive de cargos. Também deu certo. Mas, aí, restou a opção entre Rodrigo Maia e Rogério Rosso. E como agiu a articulação política do governo?

Outra rodada de fatos e aparências. A ela: 1) – Com a desandada promovida com a escolha de Marcelo Castro como candidato do PMDB, voltou a cena o deputado Lúcio Vieira Lima, irmão de Geddel e personagem importante na luta pelo impeachment; 2) – Os passos de Lúcio passaram a ser monitorados. Ele teve uma conversa com o líder do PTB, Jovair Arantes, em que teria estimulado o apoio do partido a Rogério Rosso; 3) – Isso vazou na base aliada e o ministro Geddel passou a ser apontado como parceiro de Eduardo Cunha na empreitada; 4) — Lúcio Vieira Lima foi flagrado também pelo inquieto celular do Divergente Tales Faria em um aparente congraçamento dos partidários de Rodrigo Maia.

Lúcio diz que, depois de Marcelo Castro se aproximar da oposição e de seus aliados pedirem a cabeça de Geddel, se empenhou em levar dois governistas para o segundo turno. Teria trabalhado tanto em favor de Rosso quanto de Rodrigo Maia. “Foi uma bela vitória do governo. O resto é intriga”, comemora. Tem uma coisa intrigante nisso. Deu certo meio por acaso.

 

 

 

 

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