No pronunciamento em rede de televisão, na noite dessa terça-feira (31), o presidente Jair Bolsonaro baixou o tom e não falou mais em fim do isolamento social. Adotou uma surpreendente postura de bom senso. Ignorou até o aniversário do golpe militar de 1964. A dúvida é até quando? Pode acordar na manhã dessa quarta-feira com a pá virada e chutar o pau da barraca com a irresponsabilidade de sempre, uma reação previsível para quem reage na base de surtos.
Mas há um bom motivo para se esperar, mesmo que fugaz, um momento de bom senso. Além do isolamento geral, inclusive em seu próprio governo, Bolsonaro conseguiu algumas salvaguardas para a sua paranoia de ser suplantado no próprio time. O sábio Ulysses Guimarães dizia que, na política, o pior ciúme era de homem, a exacerbada inveja do sucesso alheio.
Outra vaidade de Bolsonaro foi saciada. Ele não gostou que o chamado Orçamento de Guerra, costurado por Rodrigo Maia com as lideranças parlamentares, atribuísse ao ministro da Saúde a coordenação do Comitê de Gestão de Crise. Um acordo nessa terça-feira transferiu essa coordenação para Bolsonaro, e assim destravar a aprovação dessa PEC que promete agilizar a liberação de dinheiro para os milhões de brasileiros que aguardam essa grana para poderem sobreviver.
O receio de Bolsonaro de uma sombra em sua própria equipe não é novo. Bastou o ministro Sérgio Moro brilhar com boas notícias sobre a queda da violência urbana (fruto da sua gestão e da anterior de Raul Jungmann) para que ele entrasse na mira do chefe. Há vários outros exemplos. Seu próprio vice Hamilton Mourão já foi alvo disso.
Essa política de terra arrasada é alimentada por seu filho Carlos Bolsonaro, o 02, que vê fantasmas para todos os lados. O país que se sane. Em seu Twitter, ele faz propaganda das medidas do pai presidente para enfrentar a epidemia desse novo coronavírus, cita até quem tem pouco a ver, mas ignora a atuação do ministro Henrique Mandetta. Carluxo, a exemplo do pai, além de político, também pode ser um caso patológico.
A conferir.