Até o ideólogo Olavo de Carvalho teve que sair da toca. Guru do clã Bolsonaro na confusa Guerra Cultural, que inspira setores do governo a adotar um discurso ralo com verniz fascista, Olavo postou hoje um cauteloso tuíte sobre o explosivo vídeo divulgado na madrugada pelo secretário Especial da Cultura, Roberto Alvim, com trechos copiados de um manifesto do ideólogo nazista Joseph Goebbels. Em meio à repulsa generalizada entre artistas, acadêmicos, políticos, Olavo esperou até o final da manhã, quando o Palácio do Planalto já anunciava a demissão de Alvim, para tuitar o seguinte: “É cedo para julgar, mas o Roberto Alvim talvez não esteja muito bem da cabeça. Veremos”.
Como outros que galgaram postos relevantes no governo, inclusive ministérios, Roberto Alvim se inspirou no desbocado Olavo de Carvalho para chamar a atenção e obter o apoio da família Bolsonaro. Seu grande feito foi ter “a coragem” de insultar a atriz Fernanda Montenegro, unanimidade nacional. O próprio presidente Bolsonaro é adepto dessa prática brucutu.
Mesmo num governo em que o presidente escolhido para a Fundação Cultural Palmares, um órgão para preservar a memória da luta dos negros contra a escravidão, diz que nunca houve racismo no Brasil, o vídeo de Alvim ultrapassou todos os limites. Na quinta-feira à tarde, em sua live semanal, Jair Bolsonaro anunciou o Prêmio Nacional da Artes, com uma verba de R$20 milhões, para estimular vários setores culturais à produção de arte conservadora.
Com o propósito de detalhar as regras do tal prêmio, Roberto Alvim plagiou trechos de um famoso manifesto de Goebbels em que ele define as balizas para, em até dez anos, implantar a arte nazista na Alemanha. Alvim plagiou até o fecho do texto de Goebbels. No vídeo, Alvim aparece ladeado pela Bandeira do Brasil e a Cruz de Lorena, símbolo medieval de resistência, honra e fé cristãs. Embalou o discurso com a com a trilha sonora da ópera Lohegrin, de Richard Wagner, grande compositor alemão celebrado pelos nazistas.
Já na madrugada dessa sexta-feira pipocaram protestos nas redes sociais. De manhã, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, cobrou “urgência” na demissão de Alvim, exigida pela opinião pública e políticos. Bolsonaro acatou o pedido. Horas antes do anúncio da demissão, Alvim conversou com Bolsonaro, repetiu a alegação de seu vídeo tinha apenas uma “conexão retórica” com a pregação de Goebbels.
Tomara que sirva como um limite para outros integrantes do governo que não escondem sua simpatia com ideias fascistas e nazistas, sem qualquer reprimenda presidencial. Até porque Bolsonaro e seu chanceler Ernesto Araújo costumam repetir a besteira de que o nazismo foi um movimento de esquerda.
A conferir.