O Irã parece ser realmente o território ideal para a disputa política brasileira. O presidente Jair Bolsonaro, depois de enfiar os pés pelas mãos com a nota precipitada de apoio aos Estados Unidos na execução do general Qassim Suleimani, usou o recurso habitual para sair das enrascadas: bater no PT. O ex-presidente Lula, que andava quieto, viu a bola no seu campo e rebateu co força — até porque não foi difícil mostrar que Bolsonaro espalhara uma fake news ao acusar o petista de ter proposto um acordo ao Irã que supostamente previa o enriquecimento de urânio acima do patamar de 20% naquele país. Não previa.
Assim como Donald Trump, Bolsonaro não tem lá esse apego todo por fatos históricos. Mas eles existem, e não demorou muito para as redes serem inundadas com informações sobre a chamada Declaração de Teerã, proposta em 2010 depois de uma visita de Lula ao Irá — e aceita pelo então presidente norte-americano, Barack Obama, em carta enviada a Lula. Sopa no mel para o petista, que divulgou nota e gravou um vídeo mandando Bolsonaro parar de puxar o saco de Trump.
Não se sabe ainda qual será a repercussão política do embate, mas, seguramente, não é mau para Lula esse tipo de controvérsia em cima de temas concretos como a inevitável comparação entre a política externa de um e de outro. Para Bolsonaro, o episódio não foi tão bom assim, coroando uma sequência de críticas à diplomacia sem noção de seu governo.
Não por acaso, a partida do presidente, nesta quinta, para um descanso nas praias do Guarujá foi acompanhada com expressões de alívio na ala não-lunática do Itamaraty: quem sabe ele não se cala até segunda-feira?