O governador de São Paulo, João Doria, aplicou um “by-pass” no presidente Jair Bolsonaro, assumindo a liderança das ações para estreitar o relacionamento com a China. Na cerimônia de lançamento do livro do presidente Xi Jinping, terça-feira, 29, no Palácio dos Bandeirantes, Doria anunciou uma super-missão comercial conjunta àquele país, integrada por governadores e empresários dos estados aliados do Sul e Sudeste.
Será o maior empreendimento de relacionamento econômico sino-brasileiro. Com isto, o governador paulista espera obscurecer em parte a boa visibilidade obtida pela missão presidencial à China, que volta ao Brasil trazendo no bolso promessas consistentes de investimentos nas áreas preferenciais, tais como infraestrutura e serviços públicos (os árabes querem aplicar seus petrodólares em saneamento básico).
Entretanto, o evento do Palácio dos Bandeirantes deixou transparecer seu forte conteúdo político, no sentido de construir uma imagem de estadista para o governador paulista. O ato de lançamento em si já é significativo. Doria cedeu o palácio do governo, quando o mais apropriado seria uma livraria ou espaço diplomático (como uma casa de eventos).
Já os chineses conduziram a solenidade com um mestre de cerimônias chinês, falando em mandarim, com tradução simultânea para o português. Ou seja, o evento era definitivamente do autor que lançava seu livro.
Como representante pessoal do presidente, veio um líder político de grande porte na hierarquia do regime de Pequim, o vice-ministro Liana Yanshum, chefe do Departamento de Comunicação do Partido Comunista Chinês. Este cargo, numa ditadura comunista, é de grande relevância na nomenclatura. Também estava a consulesa da China, Chen Peije.
Doria fez um discurso demonstrando que seu relacionamento com a China vem de longa data, desde os tempos em que era presidente da Embratur, no governo de José Sarney, em 1987, quando pisou pela primeira vez no aeroporto de Pequim. Neste seu primeiro ano de governo, o governador já mandou duas missões empresariais àquele país, para atrair negócios e investimentos.
Governadores a bordo
No ano que vem, o mandatário pretende levar uma supermissão, com centenas de empresários de todo o sul-sudeste e seus governadores. Alguns, antecipa Doria, já confirmaram presença: Wilson Witzel (PSC), do Rio, Romeu Zema (Novo), de Minas, Renato Casagrande (PSB), do Espírito Santo, e Comandante Moisés (PSL), de Santa Catarina.
Também confirmou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, parceiro de Doria na bossa nova do PSDB. Como se sabe, Doria pretende assumir o comando nacional do partido e indicar o candidato à eleição presidencial de 2022. Empreitada para a qual tem o apoio do colega gaúcho.
Já o governador Reinaldo Azevedo, de Mato Grosso do Sul, também tucano, ainda não disse sim nem não. Cauteloso, espera para ver no que vai dar a manobra do líder paulista.
O livro do chefe do partido e do governo chineses é fortemente ideológico, tendo como mensagem principal a capacidade de gestão do estado comunista, apresentando “o socialismo com características chinesas para a nova época”. Ou seja, o novo comunismo pós-stalinista, que substitui o antigo socialismo real dos tempos soviéticos e que ainda subsiste em Cuba e Coreia do Norte.
Ele enfatiza que nada tem de capitalismo. É só ilusão de ótica.
Com esse evento em plena sede de seu governo, Doria divide com o presidente Jair Bolsonaro as honras ao maior parceiro comercial da China.
Xi Jinping estará no Brasil em poucos dias, entre 13 e 14 de novembro, para a reunião de cúpula dos BRICS, que se realiza em Brasília.