— Olá, este é o podcast IdealPolitik, especialmente para Os Divergentes. Aqui, vamos analisar toda semana o reality show da política.
— A propósito, você já reparou como todos os acontecimentos políticos estão conectados? Veja este caso da libertação ou não de Lula. Ou quem tem a ver com a ruptura de Bolsonaro com o PSL, Rodrigo Maia estar segurando a CPI da Vaza Jato e outros acontecimentos importantes? Tudo. Esqueça o ponto de vista e mire a vista do ponto…
— O poder legislativo e o STF gostariam de impor limites ao governo Bolsonaro na pauta dos costumes, que envolve as questões de direitos humanos, ambiental e segurança pública, para que ele se concentre na agenda econômica e, de preferência, cedendo ao tomá lá dá cá com cargos e recursos.
— Por quê? Porque quer tonar o governo um governo de centro, cujos candidatos em 2018 perderam a eleição. Conhecidos nomes da política tradicional acreditam que o discurso ideológico do capitão pode atrapalhar a aceitação do liberalismo econômico.
— O problema denominador comum é que nem o legislativo e nem o STF gozam de popularidade para bancar isso.
— Quem poderia equilibrar o jogo? O ex-presidente Lula. Só que isso exigiria do sistema político que operasse a libertação do petista. No entanto, a dimensão em que isso venha a ocorrer pode fortalecer Lula em demasia em vez de abrir uma nova oportunidade para o centro reconquistar o espaço perdido.
— Conhecendo a própria força, o ex-presidente esticou a corda rejeitando a progressão para o regime semiaberto e exigindo a absolvição plena a partir, principalmente, das revelações da Vaza Jato, a última oportunidade do sistema político de acertar as contas com a Lava Jato. O impasse esteve na raiz do porquê o STF adiou a palavra final sobre o alcance do caso Aldemir Bendine.
— A denúncia do Ministério Público mineiro contra o ministro do Turismo sobre o laranjal do PSL, que envolveria o financiamento a Bolsonaro ao Planalto, converge com o ascenso da CPMI e do inquérito das fake news do Supremo Tribunal Federal, que, conforme declaração do presidente do STF, Dias Toffoli, encontrou um plano “terrorista” contra a corte. Ad hoc, o Whatsapp confirmou a prática, ilegal no Brasil, de disparos em massa de mensagens que podem ter favorecido campanhas eleitorais, dentre as quais a do atual presidente.
— Isso quer dizer que o sistema político e seus aliados no STF montaram uma estratégia para escaparem da força de Lula, ameaçando diretamente o mandato presidencial. Não por acaso, em entrevista ao UOL, Rodrigo Maia, disse que a chance de instalar a CPI da Vaza Jato era próxima de zero.
— Mas, nessa semana, o clima mudou.
— A imprensa divulgou que se discutia um rol de poucas pessoas que poderiam voltar a fases anteriores do processo e Lula seria beneficiado dentro deste espectro para não parecer um “liberou geral”. A defesa dele pediu que a multa decorrente da condenação no caso Tríplex de Guarujá seja paga após trânsito em julgado da sentença. Com isso, Lula dá sinais de que acertou algum termo com o centro sobre como sair da prisão para equilibrar o jogo com Bolsonaro.
— Por outro lado, o ministro, Gilmar Mendes, disse ao programa Roda Viva, que Lula não tem o direito de escolher progredir ou não ao regime semiaberto. Especula-se que o termo do acordo seria liberdade com baixo constrangimento, como o uso de tornozeleiras eletrônicas, em troca da inelegibilidade dele, inclusive voluntária se for preciso.
— Para se blindar do caso Queiroz e do laranjal do PSL em Minas e Pernambuco até agora, Bolsonaro aceita desidratar a Lava Jato e se manter no terreno da crítica à revisão das sentenças da operação. Enquanto a equação de Lula não fecha, garantindo a blindagem a Flávio Bolsonaro, o presidente da República aproveita para tentar substituir a anticorrupção pelo conservadorismo de direita como o seu maior vetor eleitoral.
— A crise no PSL é um rearranjo de forças dentro da nova direita. A decisão de Bolsonaro de sair, se confirmada, significará uma escolha da ala antiestablishment, olavista.
— Com Gleisi Hoffmann virtualmente reeleita presidente do PT, a linha Lula Livre deve seguir prevalecendo no partido e projetando o petismo como a oposição que dá conta de derrotar Bolsonaro, não só nas urnas, mas em conteúdo amplo: na cultural e na economia. A ampulheta do centro tende a acabar rápido, apesar de todos os estratagemas.
— Tudo tem a ver com tudo neste novelão, não é mesmo? Saber disso é o primeiro passo para você controlar o timing dos acontecimentos em vez de ser controlado pelo timing dos políticos. No fim de semana que passou, por exemplo, teve eleição dos conselhos tutelares, numuma a grande disputa entre conservadores e liberais sobre visões de família, direitos reprodutivos das mulheres etc. Você se candidatou, participou, se engajou de alguma forma?
— É em espaços assim que começa desabrochar a manifestação do seu poder interior de ser o governo. Como dizia um velho sábio indígena mexicano, o caminho é reaprender como governar seu bairro, sua cidade e sua nação. O Estado é uma ilusão do establishment para você não perceber que governo, povo e território, componentes básicos dele, são um só.
— Time is politics,