Faz tempo que Michel Temer desistiu de tentar apressar o processo de impeachment no Senado para que a votação final ocorresse antes dos Jogos Olímpicos do Rio, que começam em 5 de agosto. Já se conformou em receber os chefes de Estado visitantes como interino. O maior problema olímpico, porém, o Planalto ainda não equacionou: é não ser o principal derrotado dos jogos. A partir de pesquisas que mostram que não há (ainda) um pingo de entusiasmo da população em relação ao evento, interlocutores do presidente interino buscam uma forma de evitar o desgaste que os jogos podem trazer, ainda que nada catastrófico ocorra em sua realização.
O sentimento da maioria dos brasileiros que não moram no Rio em relação aos jogos vai do mais olímpico distanciamento à revolta com os gastos que, num momento de crise, estão sendo feitos pelo poder público para viabilizá-los. Guardadas as proporções, é uma situação parecida com aquela que havia em 2013 em relação à Copa do Mundo e que engrossou manifestações sob o lema “não vai ter Copa”. Mas teve, e ao fim e ao cabo não foi tão ruim assim para o governo – a seleção do 7 x 1 foi a maior perdedora. É possível, portanto, que quando os jogos começarem, junto com o bombardeio televisivo e publicitário, o astral mude e não sobre para Temer.
Mas também pode ser que não, já que a situação do país é hoje muito mais dramática do que em 2014. Pelo sim, pelo não, Michel Temer está sendo aconselhado a fazer nas próximas semanas um pronunciamento à nação sobre as Olimpíadas. Gostou da ideia e deve se posicionar claramente, afirmando que não foi ele que inventou a ideia de realizar os jogos aqui e nem teve responsabilidade sobre todos os gastos que foram feitos para isso, mas que agora a Olimpíada é uma realidade e tem que ser feita da melhor maneira possível. Vai apelar ao sentimento aberto e hospitaleiro do brasileiro e dizer que, a esta altura, o país não pode dar vexame e todos têm que trabalhar pelo sucesso do evento.
Nesse script, a previsível vaia na abertura no Maracanã é a menor das preocupações.