Calcula-se que cerca de 60 mil mulheres e alguns poucos homens serão este ano vítimas de câncer de mama no Brasil. (Homens podem, sim, ter esse tipo de câncer, como teve recentemente o pai da cantora Beyoncé.)
Como nosso país é campeão em desigualdades, também em relação à saúde isso ocorre: quem tem renda superior e acesso rápido ao atendimento médico terá mais chances de sobreviver. Apesar de todo o esforço que, há anos, levou a Sociedade Brasileira de Mastologia, a Câmara dos Deputados e um sem número de entidades de saúde a se mobilizarem para disponibilizar mamógrafos a todos os usuários do SUS.
A pressão desigual da força política de autoridades de todos os níveis fez com que, na distribuição desse equipamento, a maior parte tenha ficado nos estados do Sudeste e Sul do país, em locais muitas vezes sem a menor condição de uso e aproveitamento desse meio ímpar para identificar o nódulo em estágio inicial.
Longas distâncias a serem percorridas para ir ao profissional médico, as dificuldades de agendamento do exame e da consulta, a demora em obter o início dos procedimentos – quanto mais rapidamente isso ocorre, tanto maior a chance de cura – além da ignorância própria a um país de machões para quem “ninguém apalpará os seios de minha mulher, isto é, de minha propriedade”…. quem você tem impressão de estar ouvindo assim falar com tamanho desplante hoje em dia e ser obrigatoriamente ouvido por todos os brasileiros?…
Tive a sorte que descrevi acima. Fui diagnosticada com um câncer em estágio inicial quando tinha 52 anos de idade e era deputada federal. Tive de me deslocar para Belo Horizonte e ser atendida pelo Dr. Henrique Moraes Salvador e Silva e seu pai, José Salvador e Silva, no Hospital MaterDei porque – pasmem-se! – em Brasília eu sequer teria a meu dispor o aparelho de radioterapia, procedimento a que tive de ser submetida por 33 longos dias…
Já se passaram 24 anos, estou “boa feito um coco”, mas ainda sinto um frio na barriga quando me recordo dos dois médicos ao pé da minha cama dizendo: “Meus pêsames e meus parabéns. Você teve um câncer, mas já está curada…”
Mesmo ciente das dificuldades que enumerei e que se abatem sobre os mais pobres ou menos educados, escrevo este alerta para pedir a cada um ou uma que me lê: tornem seu outubro realmente rosa!
* Sandra Starling é advogada e mestre em Ciência Política pela UFMG