Foi Lula quem lançou a moda. De nada importa a montanha de evidências e digitais nos rolos no sítio de Atibaia e no triplex do Guarujá, a culpa de seus dissabores é de Sérgio Moro. Nem a troca de guarda no Palácio do Planalto, que trouxe Moro como suposto superministro da Justiça, mudou o script. Ele continua sendo a desculpa dos caciques políticos para seus problemas com a Justiça.
Na quinta-feira, a Polícia Federal, por determinação do ministro do STF Luis Roberto Barroso, cumpriu uma série de buscas e apreensões que tiveram como principais alvos o senador Fernando Bezerra, líder do governo Bolsonaro e seu filho, o deputado Fernando Coelho. As medidas são desdobramento de uma investigação sobre pesadas acusações de dirigentes da Odebrecht sobre pagamento de milionária propina para pai e filho, membros de um dos mais antigos e poderosos clãs do Nordeste. Eles negam ter recebido o dinheiro.
Como manda o figurino, a PF atuou no caso como polícia judiciária. Em sua investigação a polícia afirma ter encontrado indícios suficientes para seguir adiante. Para o establishment político, acuado pelas apurações da Lava Jato, isso não passa de firula legal para acobertar uma perseguição política. A operação policial em gabinetes parlamentares, inclusive a Liderança do governo, deixou a bola quadrada no Senado.
Davi Alcolumbre, que mal se equilibra entre a cobrança da turma que o elegeu presidente do Senado e o apoio dos ex-adversários, se apressou a soltar uma nota em que qualifica a operação policial como uma ofensa ao próprio Senado. Em uma ginástica verbal, ele apelou para o juridiquês e definiu o cumprimento pela PF das medidas de busca e apreensão, pedidas pela própria polícia, e autorizadas pelo STF, como “desarrazoado e desnecessário, em especial pela ausência de contemporaneidade”.
Os advogados de Fernando Bezerra foram mais diretos e atribuíram as medidas judiciais contra seu cliente a uma retaliação de Sérgio Morro pela atuação do senador “contra abusos de órgãos de investigação”. Essa é a versão difundida pelos caciques políticos. Sérgio Moro que tem se esquivado de bolas divididas nem precisou se defender, limitou-se ao óbvio em entrevista ao Estadão: “A PF é uma instituição com autonomia e suas ações são controladas pela Justiça, não tendo o ministro da Justiça qualquer envolvimento em investigações específicas”.
O ministro Barroso, dono da bola nesse caso, chamou a responsabilidade para si: “A investigação de fatos criminosos pela PF e a supervisão de inquéritos pelo STF não constituem quebra ao princípio de separação dos poderes, puro cumprimento da Constituição.”. Barroso também baixou a bola dos chiliques no Senado. Disse que busca e apreensão é uma medida padrão em casos de investigação por corrupção e lavagem de dinheiro e segue os precedentes do próprio Supremo. “Fora de padrão seria determiná-la em relação aos investigados secundários e evitá-la em relação aos principais”, acrescentou, dando também uma estocada na ex-PGR Raquel Dodge, que propôs a exclusão dos Bezerra Coelho das buscas da Polícia Federal.
O cerne da questão é que, depois do acordão contra a Lava Jato e outras investigações sobre corrupção abençoado pelos presidentes Dias Toffoli, Rodrigo Maia e Jair Bolsonaro, os caciques políticos sentiram-se livres, leves e soltos. Não é bem assim. As apurações continuam e em todas as instituições há resistência ao retorno da farra da impunidade.
A conferir.