Bolsonaro na ONU e a tradição de o Brasil discursar na abertura da Assembleia Geral

1982: o general João Figueiredo foi o primeiro presidente brasileiro a falar na tribuna da ONU - Foto Orlando Brito

O presidente Jair Bolsonaro deve mesmo estar em Nova Iorque nessa terça-feira para fazer o discurso de abertura de mais uma sessão da ONU. Vai cumprir uma tradição, a de caber a um representante do Brasil discursar na sede das Nações Unidas na retomada dos trabalhos. Não se sabe precisamente o teor de sua fala e a retumbância que terão suas palavras entre os demais países integrantes desse importante organismo internacional. Tudo indica que seu alvo será o tema que o levou à berlinda da mídia mundial: a exploração da Amazônia.

Oswaldo Aranha preside a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque  – Foto FGV

Evidentemente, gera a maior curiosidade a primazia de recair sobre nosso país a inauguração anual das reuniões da Liga das Nações. Mas a explicação vem dos diplomatas do Itamarati: não se sabe o inteiro motivo de o chanceler brasileiro naquela época, Oswaldo Aranha, ter presidido a primeira sessão de tão importante organismo internacional, que hoje reúne 193 países. No ano seguinte, o mesmo Oswaldo Aranha, ainda ministro das Relações Exteriores do governo Getúlio Vargas, retornou à tribuna da ONU para repetir o gesto. E, a partir de então, vários outros ministros que o sucederam desempenharam o mesmo papel, em nome do Brasil.

Porém, em 1982, o então presidente João Figueiredo, resolveu ser o protagonista de tal ocasião. Determinou ao Itamarati que cuidasse do assunto com a maior atenção. E viajou para os Estados Unidos. O general permaneceu na tribuna por 45 minutos e criticou as superpotências por promoverem tensões entre os países e pediu a redução das barreiras comerciais. A partir daí, os demais presidentes mantiveram a inovação. Alguns foram mais de uma vez, outros, por várias razões, foram substituídos por seu ministro das Relações Exteriores.

Sarney também discursou na Assembleia Geral das Nações Unidas – Foto Orlando Brito

Em 1985, o presidente José Sarney destacou a volta do Brasil à democracia logo depois do regime militar, e condenou o apartheid. Já Fernando Collor, em 1990, falou da globalização e das reformas neoliberais no mundo. Fernando Henrique Cardoso, em 2001, manifestou-se contra a expansão do terrorismo. Lula, em 2008, dos males do capitalismo.

Collor em seu discurso na ONU – Foto Orlando Brito

Dilma Rousseff foi a primeira em nome do Brasil a abrir Assembleia Geral da ONU e, em uma de suas presenças à frente dos outros chefes-de-Estado, exaltou o século das mulheres. Em sua última vez, bateu forte na espionagem americana feita a algumas nações.

Presidente Michel Temer faz o discurso de abertura da 72ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em 2017 – Foto Beto Barata/PR

Já o presidente Michel Temer, falou durante 20 minutos sobre a crise econômica internacional e defendeu a constitucionalidade do processo de impeachment de Dilma Rousseff. E, ainda, criticou o protecionismo agrícola de algumas potências. Temer manteve a tradição de tal feito caber sempre aos presidentes brasileiros, costume que remonta ao ano de 1947, logo depois da criação da Organização das Nações Unidas, dois anos após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Agora é esperar a vez de Jair Bolsonaro.

 

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