Até que ponto Sergio Moro está disposto a resistir às seguidas investidas de ministros do STF, de caciques políticos e do próprio presidente Bolsonaro com o propósito de cortar as asas do ministro da Justiça e enquadrar a Lava Jato? Quando ele aceitou o convite para integrar o governo com a promessa de carta branca em um superministério, a avaliação generalizada era de seu pavio seria curto. Daí a surpresa com a capacidade de engolir sapos que ele vem exibindo, sem passar recibos.
Esse comportamento de Moro causa reações diferentes entre seus adversários e apoiadores. Os que sempre combateram a Lava Jato, a cada estocada dessa aliança entre os poderes, se dizem espantados por Moro ainda não ter pedido o boné. Por essa turma, aliás, ele já deveria ter caído fora da vida pública desde que Lula caiu na rede da Lava Jato. Os defensores de Sérgio Moro preferem que ele resista às pressões e siga brigando, dentro e fora do governo, por sua agenda de combate à corrupção e à criminalidade. Seu projeto para endurecer penas e ampliar o arsenal legal contra o crime organizado patina na Câmara dos Deputados.
Há divergências também sobre o tamanho das perdas efetivas de Moro em seus embates contra as forças do establishment político. Os adversários de Moro soltaram foguetes com a transferência do Coaf da Justiça para a área econômica, uma mudança sobretudo simbólica, porque até os delegados federais indicados por Moro continuam como conselheiros do órgão. O revés para valer em relação ao Coaf foi a canetada do presidente do STF, Dias Toffoli, que, a pedido do senador Flávio Bolsonaro, suspendeu dezenas de inquéritos e processos sobre lavagem de dinheiro baseados em relatórios do orgão.
Derrota de peso para Sérgio Moro e Lava Jato foi a indicação do procurador Gustavo Aras para suceder Raquel Dodge na Procuradoria-Geral da República. Moro chegou ao governo convencido de que teria peso na escolha do futuro PGR. Foi escanteado do processo; Bolsonaro escolheu quem quis. Em todas as estratégias para o enfrentamento da corrupção e do crime organizado, a PGR é um aliada fundamental para o Ministério da Justiça. Aras já antecipou mudanças de métodos nas forças tarefas de combate à corrupção. Se quiser travar investigações, enfrentará fortes resistências internas. Ele sabe disso.
Se a PGR é aliada fundamental, sem a Polícia Federal o Ministério da Justiça perde toda a capacidade operacional. O atual diretor da PF, delegado Maurício Valeixo, homem de confiança de Moro, com papel destacado na Lava Jato. Bolsonaro já pôs Valeixo na frigideira. “Está tudo acertado com Moro, ele pode trocar quando quiser”. Moro resiste. Valeixo tem o apoio de sua corporação, que é forte e temida, para ficar no cargo. O que se diz entre investigadores próximos a Lava Jato é que o limite de Moro, caso Valeixo caia mesmo, é a escolha de outro delegado de sua confiança para chefiar a PF.
A conferir.