Havia uma expectativa de como seria o encontro entre os ex-senadores Delcídio Amaral e Gim Argello na sede da Justiça Federal em Curitiba. Afinal, Delcídio foi até lá como testemunha de acusação contra Gim. Ambos eram membros da elite do Senado e invejados pelo bom trânsito com a presidente Dilma Rousseff, em uma época em que ela estava com alta popularidade e esbanjava poder.
Como bons profissionais da política, não passaram recibo. Pelo contrário, trataram-se com a mesma cordialidade de outros encontros no tapete azul do Senado. Quem assistiu a cena, ficou com a impressão de que nada abalou a relação que eles tinham antes de serem engolfados pela Operação Lava Jato.
Em seu depoimento, Delcídio confirmou o que disse na delação premiada de que empresários teriam se queixado de extorsão por parte de Gim e de outros dirigentes da CPI mista da Petrobrás — o presidente da comissão, ex-senador Vital do Rêgo, hoje ministro do Tribunal de Contas da União, e o relator, deputado Marco Maia (PT-RS) — com cobranças de doações eleitorais em troca de proteção na investigação. Gim ouviu com tranquilidade. Vital e Maia negam.
Gim não tem como fazê-lo. Além de depoimentos com detalhada descrição das negociações, a investigação já rastreou todo o caminho da propina paga pelas empreiteiras OAS e UTC. Para escapar de uma pesada condenação do juiz Sérgio Moro, só resta a Gim fazer uma delação premiada, com novos indícios e provas, sobre os figurões para quem operou em Brasília. Menos que isso não escapa.