Durante a transição e nos primeiros meses de governo, o general Augusto Heleno desempenhou, também, o papel de tradutor das declarações mais inconvenientes de Jair Bolsonaro. Sempre as amenizava. Com o passar do tempo, o presidente reservou a si próprio a tarefa, de vez em quando, tenta corrigir algumas de suas bobagens diárias. O general Heleno saiu de cena.
Não se sabe por que cargas d`àgua, na quinta-feira (29) o general Heleno resolveu retomar a função.”É preciso separar as coisas. As respostas duras dadas a Macron foram endereçadas a ele, não à França”. Até então parecia claro, inclusive no golpe baixo na referência à senhora Macron, que Bolsonaro participava de mais um de seus torneios de troca de insultos pessoais. Mas, na sexta-feira, Bolsonaro anunciou que estava aposentando a popular caneta BIC ( sucesso de público desde a campanha eleitoral) por ela ser francesa, criada na cidade de Clichy. Anunciou sua substituição pela caneta Compactor, fabricada em Nova Iguaçu.
Em um roda no palácio, da qual participava o próprio Heleno, Bolsonaro reiterava sua disposição de beneficiar com o indulto de Natal policiais que cumprem penas de prisão com um alcance surpreendente. “Tem que ter coragem de usar a caneta Compactor. Não é mais a Bic, não. Ele é francesa”. Todos riram, inclusive Heleno
Pode ter sido apenas mais uma tirada no peculiar humor de Bolsonaro. Mas insinuar boicotes a produtos, mesmo em tom de brincadeira, não parece adequado quando grandes empresas multinacionais suspender a compra de produtos agropecuários brasileiros caso as queimadas e o desmatamento na Amazônia não sejam combatidos com seriedade.
A balança comercial entre Brasil e França, mesmo não estando entre as maiores, é relevante — é o oitavo maior importador de produto brasileiros . O Brasil compra peças de automóveis e para a indústria aeroespacial e produtos farmacêuticos e químicos e exporta produtos agropecuários, minerais e artigos da indústria aeronáutica. Mantém parcerias na indústria bélica e são adversários nas políticas agropecuárias — a França defende com unhas e dentes os interesses de seus fazendeiros. As estocadas de Emannuel Macron em Bolsonaro, além dos defensores do meio ambiente, visa agradar também ao eleitorado rural da França.
Outro nicho francês de sucesso no Brasil é o mercado de grifes, com seus perfumes e marcas de roupas famosas e caras. São também expoentes entre consumidores mais abastados seus vinhos e champanhes. Aparentemente nada que interesse muito a Bolsonaro. Mas o avião presidencial, o tal do AeroLula, foi construído pelo grupo Airbus, um consórcio europeu que tem como sede a cidade francesa de Toulouse. Apesar do DNA, Bolsonaro vai continuar a viajar no Airbus presidencial.
A conferir.