Visto aqui de fora, o que está em curso no Brasil é um tremendo cavalo-de-pau liberalizante. Só ontem, os investidores receberam boas notícias como a aprovação na Câmara do projeto que permite participação estrangeira de 100% nas empresas aéreas e a perspectiva de uma série de privatizações de empresas estaduais na contrapartida da renegociciação das dívidas dos estados. Sem falar na aprovação final da nova lei de responsabilidade das estatais, impondo critérios mais duros para evitar nomeações políticas em sua gestão.
A esperança do governo interino de Michel Temer é de que a promessa de construção de um novo arcabouço regulatório para os investimentos desperte o tal espírito animal dos empresários, dentro e fora do país, num momento em que caímos do quarto para o oitavo lugar no ranking do investimento estrangeiro direto.
O Brasil está barato – e está à venda. Esta é, no fundo, a mensagem que querem passar ao mundo e, sobretudo, aos brasileiros.
A real intenção do governo interino é, com essa narrativa, consolidar o apoio do PIB ao impeachment, criar uma espécie de fato consumado no ambiente econômico que não permita que o Senado sequer pense em trazer Dilma de volta. Nesse sentido, quanto mais projetos aprovar e medidas liberalizantes anunciar, mais difícil será um eventual retorno da presidente da República.
Neste momento, só há dois fatores que podem atrapalhar essa estratégia: 1. A Lava Jato, com mais revelações dramáticas, mas que, por seu ritmo habitual, dificilmente pulverizaria o governo Temer até o início de setembro; 2. A improvável mas nem por isso menos imprevisível reação do distinto público – que, afinal, votou num projeto de esquerda e está ganhando um governo de direita.
Em tempo: continuo de férias até a próxima segunda-feira…