O político teflon. Este era o apelido que os opositores davam, em Minas Gerais, a Aécio Neves (PSDB/MG). Por mais graves que fossem as acusações, escapava ileso, como se nada colasse à sua imagem, tal qual o revestimento de politetrafluoroetileno nas panelas de cozinha.
No momento, o neto de Tancredo Neves está sofrendo uma carga de artilharia pesada, mas se porta sob o bombardeio como se nada estivesse acontecendo. Será que desta vez cola?
Na verdade, o que ocorre a olho nu é uma disputa de vida ou morte entre os tucanos de São Paulo e de Minas Gerais, revivendo um impasse que somente teve alguma trégua quando o próprio deputado federal Aécio foi candidato a presidente da República, em 2014. Naquela oportunidade, quando o ex-governador mineiro se revelou competitivo, a fração paulista do PSDB foi à luta tentando a vitória.
Derrotado pela conterrânea Dilma Rousseff, entrou na alça de mira de seus correligionários paulistas. Abalado por acusações da Lava Jato, Aécio está rebatendo, impassível, ao ataque frontal dos tucanos de São Paulo, tendo à frente nada menos do que o governador do estado, João Doria, e o prefeito da capital, Bruno Covas, este também neto de um nome estelar do partido, o ex-governador Mário Covas.
Junto com Fernando Henrique Cardoso e André Franco Montoro, Covas era um dos esteios dessa agremiação tirada de uma costela do MDB. É fogo pesado.
O racha entre São Paulo e Minas dentro do PSDB não é novidade. Aliás, inesperado foi o apoio dos paulistas a Aécio Neves em 2014.
Antes disso, o então governador mineiro era apontado como responsável pelas duas derrotas de José Serra e pelo insucesso da primeira candidatura de Geraldo Alckmin. O mineiro era responsabilizado, dizendo-se que fizera corpo mole, deixando espaço livre para o PT emplacar Lula, duas vezes, e Dilma, em 2010.
Nesta última eleição de que acusam Aécio de trair os candidatos paulistas, o então governador teria feito um acordo com o PT para eleger seu candidato a governador, o atual senador Antônio Anastasia. Era a fórmula Dilmasia, a fusão dos nomes de Dilma e Anastasia. Este acordão era mencionado nas ruas, de tão evidente.
O resultado foi acachapante. Os candidatos oficialmente apoiados pelo PT, o então senador Hélio Costa, legitimado por seu vice, um dos esteios do petismo nacional, o deputado Patrus Ananias, ex-prefeito de Belo Horizonte, levaram uma surra, perdendo no primeiro turno. Serra não perdoou Aécio.
Agora os paulistas voltam à carga, desta feita propondo a expulsão do mineiro, com base nas acusações que a Lava Jato está apresentando contra ele, embora ainda não julgadas. Negando tudo, Aécio fica quieto e diz que permanecerá no partido.
Está feito o entrevero. Terá Aécio o comando efetivo do PSDB no seu estado? Conseguirão os paulistas livrar-se do competidor? Estas são as perguntas que estão no ar.
O grupo do atual deputado Aécio diz que ele não sai do partido e que João Doria abrir guerra contra Minas Gerais é um tiro no pé, caso o governador paulista seja realmente o candidato tucano a presidente da República em 2022. Mais ainda: dizem que o líder mineiro vai recuperar sua imagem positiva e que poderá ser, ainda, candidato em 2022, tanto à presidência como ao governo de Minas.
Para isto, é preciso que aquele revestimento com o polímero, o teflon, esteja ainda a recobrir a imagem do cacique de São João Del Rei, onde o Solar dos Neves abriga a terceira geração de políticos. Será que desta vez cola? O café com leite está entornando na toalha.