O tempo passa, o tempo voa, e em seu mundinho o clã Bolsonaro continua a apostar em confusão. Seu histórico nas redes sociais mostra que eles sempre foram adeptos de teorias de conspiração. Depois do atentado contra Jair Bolsonaro em Juiz de Fora, multiplicou por ene vezes a desconfiança de de sua família em relação a adversários e até a aliados. “A morte de meu pai não interessa somente aos inimigos declarados, mas principalmente aos que estão muito perto, principalmente após sua posse”, postou Carlos Bolsonaro no Twitter no começo de dezembro.
Foi com esse tuíte, que tinha como principal alvo o então vice-presidente eleito Hamilton Mourão, que Carlos Bolsonaro deu início a uma guerra que se prolonga até hoje nas estranhas do bolsonarismo. De um lado a chamada ala ideológica, que tem Olavo de Carvalho como guru, e de outro os militares que são a principal força orgânica do governo.
Divergências à parte — o choque entre Olavetes deslumbrados com seu suposto protagonismo revolucionário e o pragmatismo dos militares com o o dia a dia do governo –, o pano de fundo de toda essa brigalhada é o próprio clã Bolsonaro. Mesmo que cada um deles, inclusive o presidente da República, tenha suas próprias avaliações, quem até agora tem dado o tom nas disputas internas, com todas suas idiossincracias, é Carlos Bolsonaro, o 002. É ele que, por razões variadas, se impõe na família.
Daí a relevância inclusive de seus espasmos. Desde a transição do governo, ele deixa a entender para seus seguidores nas redes sociais o temor de que o vice Hamilton Mourão conspira para derrubar Bolsonaro e assumir a Presidência da República. Essa paranoia tem enredo. Na política, o principal campo de batalha seria na comunicação — onde se trava a tal guerra cultural tão apregoada por Olavo de Carvalho. Daí as brigas com quem se meteu no projeto deles de criar uma comunicação direta com a população — Gustavo Bebbiano e Santos Cruz, dois ministros tidos como poderosos, foram simplesmente defenestrados.
Depois dessas vitórias, a pedido do presidente, Carlos Bolsonaro e Olavo de Carvalho fingiram sair de cena em uma suposta trégua no mundinho bolsonarista. Olavo até tem respeitado o script. O 002, carinhosamente chamado pelo pai de pit bull, escapou da coleira. Ele começou a semana atacando em duas frentes. Em uma delas, ele ressuscitou a paranoia de que Jair Bolsonaro e os seus estariam ameaçados por supostos aliados de atentados contra suas vidas. E foi fundo. Pegou carona em uma crítica a falha da segurança militar com o embarque de um sargento em um avião da FAB, à serviço da Presidência da República, com 39 quilos de cocaína, e fez um longo e dramático tuíte:
“Porque acha que não ando com seguranças? Principalmente aqueles oferecidos pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, responsável pela segurança do presidente da República)? Em sua grande maioria podem até ser homens bem intencionados e acredito que sejam, mas estão subordinados a algo que não acredito. Tenho gritado em vão há meses internamente e infelizmente ignorado. Não digo que sou dono da razão e evitei até aqui ao máximo me expor desse jeito, mas não está dando mais. Estou sozinho nessa, poderia a partir de agora ser alvo mais fácil ainda tanto pelos de fora quanto por outros. Há muito nisso tudo! Mas viemos aqui para deixar uma mensagem! Creio que essa faz parte dela, mesmo que isso custe minha vida, Abraço”.
Com a mesma leviandade de meses atrás, Carlos Bolsonaro questiona a integridade dos militares encarregados da segurança presidencial. Em nenhuma gestão civil, tal capacidade militar foi posta em cheque pela família presidencial. Afinal, o que ele quer dizer? Há uma conspiração militar, envolvendo inclusive o general Augusto Heleno, contra seu pai presidente? O objetivo é tornar Mourão presidente? O porta-voz do Planalto, general Otávio Rêgo Barros, limitou-se a uma protocolar manifestação de que a presidência da República confia na capacidade do Gabinete de Segurança Institucional de assegurar a segurança das autoridades do Executivo. Evitou passar recibo a Carlos Bolsonaro.
Pode ter sido apenas um blefe ou mais uma chantagem emocional. O fato é que, depois desse desse post dramático, Carlos Bolsonaro ajustou a mira no que de fato lhe parece essencial, o comando da comunicação oficial e das verbas publicitárias do aparelho estatal. Retuitou a notícia de que, sem ter nenhuma experiência na área, Antonio Hamilton Rossel Mourão, filho do vice-presidente da República, foi indicado para a gerência executiva de marketing e comunicação do Banco do Brasil, um cargo estratégico na relação com a mídia. Soou como um veto à indicação de Antônio Mourão.
A conferir.