Até alguns senadores que achavam bom dar um sacode em Sérgio Moro se sentiram incomodados com a sem cerimônia da Câmara de empurrar goela abaixo a devolução do Coaf para o Ministério da Economia. Acharam um exagero a estratégia da faca no pescoço executada pelo Centrão a mando de caciques políticos. Boa parte dos senadores, em uma Casa bem renovada, sentiu necessidade de dar logo um troco. E com endereço certo.
A vitória na guerra sobre o Coaf por todos, dentro e fora do governo, que avaliam ser preciso cortar as asas de Moro e da Lava Jato, é um triunfo simbólico — afinal, o Coaf não vai mudar de endereço, de comando e nem de diretrizes de trabalho. O que prevaleceu na queda de braço foi a parceria de caciques políticos, Rodrigo Maia à frente, com os ministros do STF Gilmar Mendes e Dias Toffoli, desafetos de Moro e da Lava Jato.
O Centrão — integrado por partidos também chefiados por caciques enrolados na Lava Jato e em outras investigações sobre corrupção, como Valdemar Costa Neto e Ciro Nogueira — foi a ponta de lança dessa articulação. Seus líderes aprenderam com Eduardo Cunha como peitar aliados e adversários, na maior cara dura. Eles não estão nem aí pras tais redes sociais, opinião pública. Blefam, ganham ou perdem, na mesma balada.
Sérgio Moro os incomoda. Por serem figuras políticas menores, papéis secundários nos escândalos, sentem menos a pressão da Lava Jato e de outras operações que Aécio Neves, Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Lula, José Dirceu, Michel Temer, Palocci, Sérgio Cabral… A turma que está por trás no jogo contra Moro.
O Centrão é mais sensível, por exemplo, às reivindicações dos ruralistas. Eles sempre estiveram na linha de frente nos embates com os ambientalistas. Nesse campo, a avaliação é de que agora nadariam de braçada. Desde a campanha eleitoral, Jair Bolsonaro prometeu e vem cumprindo que no seu governo, em todas as bolas divididas, a preferência é dos ruralistas. Foi o que se viu nessa quarta-feira (29) na Câmara dos Deputados.
Ali foi aprovada a MP 867, enviada por Michel Temer, com o propósito de dar mais prazo para os produtores rurais adequarem suas propriedades ao Código Florestal, aprovado em 2012. Sentindo que a maré está a favor, os ruralistas esticaram a corda, alegando alterações quer dariam mais segurança jurídica na área rural. Os ambientalistas dizem que abriram a porteira em uma espécie de anistia que livra fazendeiros que, e modo ilegal, degradaram terras da obrigação de recuperá-las ou de alguma forma compensar os danos.
A exemplo da MP da reforma administrativa, em que para tirar o Coaf da Justiça foi preciso uma carta de Bolsonaro, tendo o próprio Moro como avalista, a Medida Provisória que altera o Código Florestal vence no dia 3 de junho. Vai caducar. Davi Alcolumbre disse que essa foi uma decisão dos líderes, um troco sob medida.
O Senado não quer continuar a reboque da Câmara.
A conferir.