Para manifestações que pareciam sem pai nem mãe, tal o receio de fracasso pelos que deveriam assumir sua paternidade, o resultado nas ruas de todo o país nesse domingo foi surpreendente. Capitais e cidades relevantes país afora tiveram mobilizações convocadas por grupos que, fora o mundinho político dividido por dezenas de grupos de direita, ninguém conhecia. A turma que ganhou notoriedade pela organização dos grandes atos pró-impeachment de Dilma Rousseff, por razões diversas, agora ficou de fora.
Semana passada, na expectativa de concentrações pífias, baixas foram se sucedendo. Até o governo Bolsonaro, seu principal beneficiário, fez um “hedge” contra seu eventual fiasco. Com a ida de multidões às ruas — em mobilizações equivalentes ao grande protesto semanas atrás em defesa da Educação –, o presidente Bolsonaro e outros personagens que pareciam esquivos surfaram em seu sucesso.
Foi um recado tão claro quanto o da Educação. Vale repeti-los: Não dá para fazer terra arrasada no nosso já esculhambado sistema educacional, como também não adianta as elites políticas conspirarem contra a Lava Jato e outras investigações sobre corrupção porque ninguém aguenta mais tanta roubalheira. O que menos importa é se os mensageiros desses recados são de direita ou de esquerda.
Não adianta o Centrão, a mão ostensiva da parceria nos bastidores entre caciques políticos e ministros do STF, insistir na guerra contra Sérgio Moro e a Lava Jato. Era uma estratégia de folego. com a previsão, entre outras coisas, de “desossar” o pacote anti-crime. Perdeu gás logo no primeiro embate. Depois de muitos blefes, o placar apertado na Câmara para tirar o Coaf de Moro soou como derrota. Corre sério risco de cair se for a voto no Senado. O pior para eles é que, depois das manifestações nesse domingo, com amplo apoio a Moro, se a questão voltar para a Câmara, eles temem não conseguir repetir a surrada vitória anterior.
Se Bolsonaro vinha perdendo terreno com a brigalhada e as trapalhadas em seu próprio campo, com reflexo em sua popularidade e no grande protesto em defesa da Educação, a multidão mobilizada por grupos de direita nesse domingo também baixou a bola de Rodrigo Maia e outros caciques políticos e seus parceiros Dias Toffoli e Gilmar Mendes no STF.
Em meio a erráticas declarações, que costumam mais confundir do que esclarecer, Jair Bolsonaro pode ter acertado o alvo ao propor que, a partir da insatisfação das ruas, os presidentes dos poderes façam um pacto:
— Esse movimento é um recado para todos nós, do Parlamento, do Executivo e em parte dos magistrados do Brasil também. Algo está travando a nossa pauta.
É hora de destravar. Melhorar a Educação, aperfeiçoar o combate à corrupção e dar um jeito nas contas públicas são prioridades na pauta do país, nas manifestações de todos os naipes.
A conferir.