O clube alviverde havia montado um time matador. Numa campanha agressiva, chegara ao final do campeonato pronto para fazer barba, cabelo e bigode. A proposta tática era conservadora, mas ufanista: dominar o jogo, propor mudanças que surpreendessem a todos e ganhar de goleada.
A torcida alviverde estava em êxtase. Sabia de cor a escalação do time. Na zaga, Heleno, Bentinho, Ernesto e Mendonça. Dois líberos de muito vigor, Louro e Tarcísio. O ataque, imbatível, com Serginho, Paulinho e Marquinhos. Na ponta de lança, o ídolo da equipe, Jair Chumbão.
O adversário vinha de uma campanha sofrida, o plantel estava desfalcado. Havia perdido seus ídolos pelo caminho e, apesar da fama de aguerrido, havia escalado um time que combinava jogadores velhos e juvenis. O amor à camisa vermelha era lendário. A torcida alviverde, porém, já antecipava o resultado: os rubros viriam para cima e, com um par de contra-ataques, o time da casa iria carimbar a vitória.
Começa a partida e, para surpresa de todos, os rubros mal se mexem em campo. É toque curto na intermediária, bola pra lateral, bate-e-rebate. O jogo não evolui. Os alviverdes abrem espaço e chamam o adversário. Para nada. Ficam todos plantados em sua posição, cozinhando o jogo.
Nem dá pra dizer que há catimba ou jogada desleal. A verdade é que não há nada. Quando os craques alviverdes tentam coordenar uma jogada, batem na silenciosa barreira adversária ou tropeçam na bola. Um vexame inesperado.
Chumbão, isolado lá na frente, se enerva. Provoca, bate boca, se irrita com o juiz. Em determinado momento, encosta na linha e troca insultos com o câmera da tevê. A torcida ovaciona os esforços do ídolo.
O tempo vai passando e nada de gol. A torcida vai ficando amuada com o empate insosso. Daquele jeito, seria um jogo longo, enjoado, sem brilho. Nada para comemorar. Depois de um ano de campanha, cheio de promessas, estavam diante de uma equipe inexpressiva.
Os comentaristas, que até a véspera eram só elogio, começam a reparar nas falhas do time. O zagueiro participa pouco, o líbero é leão de treino, o centroavante, apesar do barulho que faz, não tem eficácia. O jogo, em resumo, é uma bagunça. “Até aqui, olhando o que aconteceu, vemos que a campanha nos enganou. Os jogos anteriores foram contra times de várzea”, comenta, entristecido, o grande Berg.
Agora estamos nos quinze do primeiro tempo. As substituições já se sucedem. Pouco depois de entrar, Alemão isola uma bola e carimba um grupo de torcedores. A plateia, incomodada, ensaia uma ola.
É, será um jogo interminável…