As abóboras se acomodam no andar da carruagem. Ainda não se pode afirmar que sejam as placas tectônicas se movendo ou uma manobra tática consciente e planejada do presidente para se posicionar em campo.
Seja qual for essa realidade, o presidente parece encastelar-se na sua fortaleza política numa trincheira aparentemente defensiva, aguardando por fatos novos.
O PT na mira
Os analistas estão começando a admitir que há um sentido nessa guinada para o confronto. Bolsonaro estaria recuperando seu discurso eleitoral e botando em prática o ataque a seus arquirrivais do PT, alvo principal. Enquanto se estapeia com a esquerda, delimita o terreno da luta.
Esse movimento tático, como bem observou em Os Divergentes o analista Ilimar Franco, vai acabar com o conforto do muro. O chamado Centrão, que ora está de um lado, ora de outro, pescando em águas turvas, terá que descer ao chão. Encurtando o cabresto, Bolsonaro esfria as ambiguidades próprias do parlamento brasileiro.
A se confirmar esse quadro, o governo terá conseguido isolar os dois campos de ação política a que se propõe: a agenda pragmática, centrada nas reformas da economia (previdência em primeiro lugar), e da segurança pública. Ambas devem correr em faixa própria, enquanto o Palácio vai para a briga de rua contra a esquerda.
“Encurtando o cabresto,
Bolsonaro esfria as ambiguidades próprias
do parlamento brasileiro”.
Assim, o Centrão conservador terá de optar por um posicionamento menos voraz, pois se mantiver seu toma-lá-dá-cá vai terminar falando sozinho. Terá de optar, e seu caminho será, nesta situação, apoiar a direita.
Direita volver
Por mais que a esquerda faça “cara de moça” (atitude da onça antes do ataque, diz o escritor Mário Palmério em seu livro Vila dos Confins), os conservadores ainda não têm como se aliar aos seus ferozes antagonistas nos plenários das duas casas do Congresso.
Esse esticar da corda seria uma forma de o governo trazer para seu lado as bancadas recalcitrantes dos ditos partidos “independentes”. Sendo assim, com a luta ideológica exacerbada, o ministro Paulo Guedes terá condições de fazer passar a maior parte de seu purgante salvador.
Logo em seguida, o ministro Sérgio Moro vem com seus pacotes para dar um choque de dureza na bandidagem, como diz o presidente da República, referindo-se à repressão à violência disseminada e ao crime organizado.
Salve os EUA
O curioso desse quadro é que, uma vez mais, tudo se configura nos Estados Unidos. O primeiro avanço neste sentido se deu na primeira viagem, a Washington. Agora, em Dallas, Bolsonaro botou os pontos nos ii, deixando bem claro que a briga recém começou.
Bolsonaro foi claro: vai meter a tesoura no orçamento para não cair como aconteceu com a ex-presidente Dilma Rousseff, impedida de governar acusada de crime de responsabilidade fiscal. Já outro correligionário peesselista acrescenta: “E também não incorrer no estelionato eleitoral”.
Ou seja, ele entrega o que prometeu, disseram dois ministros nas sabatinas da Câmara. Jogo duro.