A amplitude e capilaridade da mobilização contra os cortes de recursos das universidades, que agregou palavras de ordem diversas, surpreendeu até mesmo seus organizadores. Mal ou bem, pelos braços dos jovens, as ruas voltaram a se manifestar, com sinal à esquerda e num protesto contra um governo de direita que nem completou ainda cinco meses.
Ninguém sabe como será o dia seguinte ao 15 de maio, e nem sequer se os protestos voltarão a se repetir. Se tivesse um mínimo de competência política, o governo Bolsonaro trataria de demitir novamente seu ministro da Educação, recuaria nos cortes chamaria a turma para dialogar. Como não tem, dificilmente fará isso.
Ao contrário, deve predominar a lógica do confronto, a preferida do presidente. Nesta quarta, o próprio Bolsonaro pode ter levado mais gente às ruas só chamar de “idiotas” e “imbecis” os manifestantes. Esse tipo de erro costuma ser fatal.
É muito provável, portanto, que o país esteja no limiar de um novo processo, que não sabemos ainda no que vai dar mas que certamente terá consequências. Por muitas razões, até pelo sinal político trocado, parece ser um movimento bem diferente do de 2013.
Mas é bom lembrar que em sua linha de frente estão os jovens, que apesar de terem ido protestar contra Bolsonaro, não simpatizam tanto assim com os atuais partidos políticos. Qualquer tentativa de apropriação do movimento pelos políticos tradicionais poderá ser mal recebida, e essa aproximação terá que ser feita com cuidado.
Acima de tudo, a bandeira da Educação e a dimensão do protesto vêm mostrar que, apesar dos pesares, nos últimos anos muito mais gente estudou e teve acesso ao ensino, inclusive universitário.
É simbólico e importante que a ameaça a essa conquista – ainda que a Educação esteja longe de ter chegado a um grau satisfatório para todos os brasileiros – seja o fator responsável por uma possível inflexão politica no país. Como diria um certo marqueteiro americano, se brasileiro fosse: “É a Educação, estúpido!”.