Na manhã do domingo (28), Jair Bolsonaro recebeu Rodrigo Maia no Palácio da Alvorada para uma conversa a sós. De público Maia nada comentou. “Foi uma excelente conversa, que durou mais ou menos uma hora, e tratou de um montão de assuntos”, explicou Bolsonaro. Nada acrescentou sobre os temas abordados nesse “montão”. A imprensa concluiu o óbvio: a reforma da Previdência seria um deles.
Ao contar a aliados sobre o que conversou com Bolsonaro, Rodrigo Maia disse ter obtido o aval presidencial para o retorno do Coaf ao comando da área econômica. Foi o suficiente para mobilizar sua tropa. Tirar o Coaf ( o organismo encarregado de de rastrear lavagem dinheiro no Brasil) da jurisdição de Sérgio Moro é uma bandeira que une interesses variados. Desde todos os que combatem a Operação Lava Jato — os caciques de partidos investigados por corrupção, alguns ministros do STF, boa parte dos advogados criminalistas — até os que temem, com argumentos razoáveis, os riscos de dar poderes excessivos a investigadores.
A tentativa da turma da Lava Jato em Curitiba de criar uma fundação com financiamento bilionário de recursos recuperados pelo assalto à Petrobras assustou quem apoia as investigações e deu discurso e justificativa para os que a combatem. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apesar dos muxoxos de Curitiba, pôs um freio nesse delírio.
Essa pisada na bola da turma de Curitiba, sob a liderança algo messiânica do procurador Deltan Dallagnol, incapaz de autocrítica mesmo quando comete erros grosseiros, deu o pretexto para os ministros do STF Dias Tofolli, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes tentarem criar mecanismos para constranger juízes, procuradores, policiais federais, auditores da Receita Federal, a imprensa, e as redes sociais.
Nessa toada, eles Já inventaram um inquérito à revelia da lei, tiveram que recuar de uma inconstitucional censura à imprensa, criaram, agora, um grupo de trabalho para regulamentar a participação de juízes e desembargadores nas redes sociais, na expectativa de que seja estendido ao Ministério Público e a outros órgãos do Estado. É uma ofensiva até aqui sem nenhum aval ou senão do colegiado do STF. Espera-se que, em algum momento, essas iniciativas, comandadas por Dias Tofolli, sejam apreciadas pelo plenário do Supremo Tribunal Federal.
Tofolli está fazendo sua parte em um jogo combinado com Rodrigo Maia, que desde março descrevo em capítulos sua evolução por aqui. No front congressual, os relatos mais recentes é de que não há dúvida de que o parlamento, no caso das alterações no Coaf e de pontos importantes de seu pacote anti-crime, vai dar um claro recado de rejeição. “Será uma óbvia derrota do Sérgio Moro e um voto de censura a ele e a sua política”, crava quem está acompanhando essa guerra bem de perto.
Esse de fato é o enredo hoje mais aceito em Brasília.
No errático jogo que marca sua maneira de governar, Bolsonaro muda toda hora de posição. Depois desse suposto compromisso com Rodrigo Maia, já mandou seu general porta-voz anunciar que apoia a manutenção do Coaf com Moro. Mas que ainda pode mudar de ideia. O epílogo até pode estar em suas mãos pela prerrogativa da sanção ou veto presidencial. Mas tudo indica que a palavra final será mesmo no Congresso, do Senado Federal.
Há cinco anos, scripts variados tendo a Lava Jato e Sérgio Moro como liquidados no capítulo final foram armados, escritos e articulados por personalidades com muito mais cacife do que os atores de hoje. Lula, Aécio, Renan Calheiros, José Sarney, Michel Temer, Eduardo Cunha, Rodrigo Maia, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, quando tinham muito mais poder, não conseguiram chegar lá. Em todas essas ofensivas, em algum momento, por pressão das redes sociais e da opinião pública, Moro e a Lava Jato conseguiram escapar com poucas escoriações.
Por mais paradoxal que pareça, a principal salvaguarda de Sérgio Moro e da Lava Jato ao longo desses anos foi justamente o Senado, onde reinavam seus principais adversários — Renan Calheiros, Aécio Neves, Romero Jucá, Jader Barbalho, Edson Lobão, Eunício Oliveira, Roberto Requião, Lindbergh Farias, Gleisi Hoffmann, Vanessa Graziotin, Fernando Collor, Ciro Nogueira, entre outros. Toda vez que a ribalta foi o Senado, até em batalhas decisivas que já haviam sido vencidas na moita em madrugadas na Câmara ( caso em que desfiguraram as 10 medidas propostas pelo Ministério Público para o combate à corrupção), os senadores recuaram diante da pressão das redes sociais.
Essa nova composição do Senado — em que poucos dos mais acirrados adversários da Lava Jato sobreviveram ao vendaval eleitoral de 2018 — é marcada por forte influência das redes sociais. Mesmo que Rodrigo Maia, o Centrão e outros aliados consigam nas votações na Câmara impor derrotas a Sérgio Moro e à Lava Jato, nada garante que o Senado vai referendá-las.
A conferir.