Seguidamente, os atos e declarações do atual governo têm efeito parecido ao das tempestades de verão. São breves, mas são fortes. Sabe-se que vai passar, mas sabe-se que deixará diversos efeitos deletérios pelo caminho: alagamentos, desabrigados, transtornos…
É o caso da declaração do ministro da Educação, Abraham Weintraub, de que determinaria corte em verbas de universidades pela avaliação absolutamente subjetiva e discricionária de que elas promoveriam “balbúrdia”. Promovida de fato a “balbúrdia” a partir da declaração do ministro, recuou-se do critério selecionador e estabeleceu-se um corte linear para todas as universidades. Continua sendo uma péssima notícia para o ensino superior. Mas, pelo menos, não haverá aí nenhum tipo de critério que pareça perseguição ou censura.
Mas a declaração de Weintraub produziu e produz ainda seus efeitos, como uma tempestade de verão. As redes sociais se coalharam de um lado de defesas veementes das universidades atacadas e da sua produção acadêmica. E de outro por fotos de festas provavelmente falsas e não comprovadas com gente pelada e outros excessos.
Não foi a primeira e certamente não será a última vez que o governo declara que fará uma coisa e recua depois. Essa tem sido uma rotina. Que, talvez, faça parte de uma estratégia, dentro desse novo formato estranho de comunicação via redes sociais, que ainda muito espanta e que precisa muito ser melhor estudado. Antes da volta aos Divergentes, já conversávamos que há método no Golden Shower. Também falamos sobre isso aqui.
A fala de Weintraub mobilizou os exércitos virtuais. E essa parece ser a primeira função de fato. Uma necessidade de manter a guerra nas redes. Uma necessidade de busca de manutenção do ambiente de polarização que levou à vitória do atual governo. Do outro lado, a oposição mais radical parece sentir que também somente a manutenção dessa polarização preserva sua chama acesa.
O segundo ponto a dirigir esse avança e recua é a manutenção de certa tática diversionista. Desvia-se o foco para esses temas que o próprio governo mais tarde não sustenta. Se não sustenta, os torna de fato periféricos. Mas eles, ainda que não produzam efeitos, tratam de encher de assunto e argumentos os exércitos virtuais. Que deixam de lado os temas essenciais. A predileção pelo diversionismo mantém vivo um governo ainda de muito poucos resultados práticos.
O grande problema dessa prática é que, alimentadora de conflitos, ela nutre também diversos embates internos. É um governo em crise interna permanente. Olavistas brigam com militares. Que brigam com evangélicos. Que brigam com mais alguém.
Uns noticiam que o ministro da Justiça, Sérgio Moro, está insatisfeito e quer sair do governo. Outros noticiam que quem vai sair é Damares Alves, dos Direitos Humanos. Ambos, porém, permanecem. Desmente-se a notícia. Mas ninguém tenha dúvida de que as informações iniciais saíram de fontes de dentro do próprio governo. Ou porque as insatisfações existem ou porque determinados grupos querem desgastar determinados ministros. Ou porque informações ditas e desmentidas também ajudam na tática diversionista.
E segue, assim, o baile. Um baile que, nesse avança e recua, vai sendo regido por um solo de sanfona. É abrindo e fechando o fole bem rapidamente que hoje se governa.