O Condestável da República. Este era o título que se dava ao senador José Gomes Pinheiro Machado (PRRG/RS), que foi o político mais influente no período inicial da República, tido por aliados e adversários como o “fazedor de presidente”, assim chamado pela força de suas articulações que, invariavelmente, levavam à escolha do novo ocupante do Palácio do Catete.
Um livro sobre o senador (1851/1915), não uma biografia convencional, foi lançado pela editora L&PM. O livro intitula-se “O Senador Acaba de Morrer”, referindo-se ao assassinato de Pinheiro Machado em 1915, pondo fim à sua carreira. O autor é o escritor José Antônio Gomes Pinheiro Machado, sobrinho-bisneto da personagem.
Na sua narrativa, o escritor produz uma obra sem precedentes, usando de sua intimidade intrínseca com o biografado, traz Pinheiro Machado para os dias atuais e o insere na sua própria história: José Antônio foi preso no famoso Congresso da UNE em Ibiúna (SP), em 1968, escapando de uma condenação certa porque o policial que o interrogou era descendente do motorista do senador.
Seria este chofer aquele interlocutor da mais célebre recomendação de gestão de crise de um político. Ao se ver no meio de uma multidão hostil nas proximidades do Senado, o motorista pergunta ao passageiro o que fazer. Pinheiro responde: “Siga em frente, mas não tão rápido que pareça que estou com medo; nem tão devagar que pareça uma provocação”. Em reconhecimento, o policial soltou o jovem Pinheiro Machado.
Com autoridade de familiar, José Antônio (o escritor é conhecido como Pinheiro Machado, mas aqui embolaria a compreensão de quem é quem), mergulha profundamente na alma de seu personagem. Um exemplo é que Pinheiro nunca pensou em se colocar como candidato ao governo.
Certamente desta explícita desambição viria uma parte de sua força. Seu grande antagonista, contra o qual se bateu nos palanques e parlamentos, foi nada menos que Ruy Barbosa. A Águia de Haia, no entretanto, foi além de Pinheiro, pois candidatou-se duas vezes, sempre derrotado nas urnas.
Porém, era tão elevada essa polêmica entre Ruy e Pinheiro que, sem deixarem de ser contundentes, os debates e enfrentamentos entre os dois ficaram na História como disputas virulentas e espirituosas.
Não obstante, eram companheiros de mesa. Ruy era comensal nos jantares na casa do senador gaúcho, no Morro da Graça, em que a mulher de Pinheiro, dona Nhãnhã (apelido caseiro de dona Benedita Brazilina) mandava preparar seu doce de batata-doce especialmente para o senador baiano.
Nas refeições, os dois próceres bebiam do vinho Chateau d’Yquen da safra de 1898, a favorita dos dois parlamentares. Na crônica política da época, os dois eram apresentados como antagonistas ferozes. É verdade, mas nada que se compare ao baixo nível atual, nestes tempos de “estética do ódio”.
Nesta apresentação (não é uma resenha nem crítica literária), o repórter convida o leitor a saborear esta obra literária. Bem escrito, vivo, delicioso é “O Senador Acaba de Morrer”, com o subtítulo “A vida e o assassinato de um dos políticos mais importantes da História do Brasil”.
Realmente, Pinheiro Machado é um personagem histórico a ser melhor qualificado no ranking dos fundadores da Pátria. No Século XX nenhum parlamentar teve tamanha influência, nem mesmo Getúlio Vargas, seu sucessor no quadro de políticos gaúchos. Getúlio teve poder inigualável, mas Pinheiro foi mais influente.
Esse livro é tema para páginas e mais páginas de um comentarista. É tão vasto que não se pode valorizar esta parte ou aquela passagem sem se sentir culpado pelo que deixou de fora. Então optamos por convidar o leitor e dar uma olhada nesta obra sobre a História política do Brasil.
José Antônio Pinheiro Machado, autor consagrado, jornalista com passagem pelas maiores redações do Brasil, apresentador de televisão (com seu personagem Anonymus Gourmet) , repórter que deu o furo do fim da Guerra do Vietnã, cobrindo a conferência de Paz em Paris para o Correio do Povo de Porto Alegre, traz agora, com sua alma de jornalista, uma nova reportagem.
Não está abrindo um velho baú de reminiscências familiares, nem revisitando livros de História. Trata-se uma reportagem, em que o repórter viaja pela máquina do tempo, e se encontra com a personagem nas duas épocas: o do biografado e o do próprio autor.