Como Lula preso virou pião na guerra entre os novos donos do poder

Quem mais alimenta o "Lula, livre" são antigos adversários, hoje mais empenhados na luta contra uma suposta conspiração de Sérgio Moro e a turma da Lava Jato para enquadrar o STF

Nem a confirmação pelo Superior Tribunal de Justiça – outra vez por unanimidade – da condenação de Lula por corrupção e lavagem de dinheiro, no caso do triplex do Guarujá, parece abalar a convicção dos que esperam ver o ex-presidente livre na próxima esquina. O “Lula, livre” ganhou pernas próprias, que seguem à revelia do processo judicial, e parecem deixar em segundo plano as regras judiciais que podem ou não beneficiar quem teve sua sentença reafirmada em quase inéditas três instâncias.

O ” Lula, livre” argumenta que Lula é vítima de seguidos erros judiciais. Desde o início do inquérito tudo seria uma armação. Servidores públicos da Justiça, Ministério Público, Polícia Federal, Receita Federal teriam se aliado aos donos das maiores empreiteiras do país, flagrados em corrupção, para pôr a culpa de tudo em Lula. Mesmo todos os que continuam cumprindo pena, sem benefícios evidentes, teriam apontado o dedo para Lula em uma grande conspiração nacional, que ainda obteve o voto dos eleitores na eleição plebiscitária de 2018.

Mas o “Lula, livre” não sobrevive apenas de ilusões. Apesar de meio escanteado no jogo, ele é peça importante na peleja principal que se trava em Brasília. Muito mais do que mobilizações minguadas, cada vez mais esvaziadas, o que lhe dá gás são alguns aparentes adversários. São entrevistas aqui e ali de ministros do STF, como Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello, que, a cada derrota judicial de Lula, acenam com a possibilidade de revisão de sua condenação em fóruns  que não mais controlam.

Gilmar fala sobre a Segunda Turma do STF como se não tivesse perdido a hegemonia ali com a troca de cadeiras entre Dias Tofolli e Cármen Lúcia. Marco Aurélio surfa no namoro com petistas que o veem com desconfiança desde sua nomeação para o STF pelo primo Fernando Collor. Isso até anima a torcida, mas é perfumaria no jogo pesado que se trava nos bastidores dos poderes em Brasília.

Ministros do STF Gilmar Mendes e Sérgio Moro, da Justiça  – Foto Orlando Brito

É nessa parada que aparecem as digitais de Gilmar Mendes. É atribuído a ele o convencimento de Dias Tofolli e de Rodrigo Maia de que ambos estariam sendo alvos de uma conspiração da Lava Jato, apoiada pelo ministro Sérgio Moro, com o aval do presidente Jair Bolsonaro. Parece paranoia.

Mas é justamente esse o pano de fundo do polêmico inquérito aberto pelo Supremo para  apurar  supostas fake news, mas que busca pegar em alguma esquina tramoias da operação Lava Jato e de outras investigações sobre corrupção.”É preciso conter os abusos que se perpetram, não é muito difícil transformar força-tarefa em milícia”, proclamou Gilmar durante mais uma das pajelanças que costuma promover em Lisboa.

Como na cantiga de que dois elefantes incomodam mais que um, a teoria da conspiração difundida por Gilmar Mendes perdeu terreno nos últimos dias para o bombardeio disparado pelo 002 Carlos Bolsonaro, inspirado pelo guru Olavo de Carvalho, contra o vice-presidente Hamilton Mourão. A narrativa adotada pelo clã Bolsonaro é de que o general Mourão, com o apoio dos generais no governo, quer derrubar o primeiro militar eleito pelo povo depois da ditadura militar.

Uma frase atribuída a Flávio Bolsonaro em uma roda de senadores talvez resuma essa ópera: “O problema é Mourão e Morinho”.

A conferir.

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