Numa jogada solo, aparentemente sem consultar ninguém, Jair Bolsonaro telefonou ao presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco e mandou suspender o aumento de 5,7% já anunciado no preço do diesel. De uma tacada, provocou uma perda de R$ 32 bilhões no valor de mercado da companhia.
Além de mostrar que seu liberalismo não resistiu aos cem dias e apavorar os mercados e os setores liberais que apoiaram sua eleição, o presidente deixou parte de seus auxiliares muito preocupados.
O principal objeto da preocupação é o ministro da Economia, Paulo Guedes. O Posto Ipiranga, que tomou conhecimento da decisão nos Estados Unidos, não foi ouvido nem cheirado no episódio. Embora tenha dito que não abandonará sua missão na “primeira derrota”, nada se sabe sobre a segunda, a terceira, ou a quarta derrotas.
O conjunto da obra vem ficando a cada hora mais desconfortável para Guedes e outros arautos do liberalismo. Além do inequívoco sinal de interferência na Petrobras,
contrariando todos os cânones do liberalismo prometido por esse pessoal, derrotas se avizinham em outras frentes.
Como reagirá a ala liberal?
Já ficou claro que a reforma da Previdência que sairá do Congresso estará longe do projeto apresentado por Guedes. Ele pode até aceitar a retirada de itens como as mudanças no BPC e na aposentadoria rural, que na prática já estão fora. Mas como reagirá quando cair o que considera a espinha dorsal de seu projeto, a capitalização, como parece provável?
Há sinais de que a reforma profunda proposta por Guedes no sistema de aposentadorias será mais uma meia-sola, suficiente para segurar as contas públicas até o fim do atual mandato, mas que deixará nas mãos do próximo presidente a pauta de uma nova reforma – aliás, como tem ocorrido nos últimos governos.
Não se sabe qual será o ânimo de Guedes e dos demais liberais de carteirinha do governo para ficar no governo quando isso acontecer, em meio a um cenário de desempenho modestíssimo da economia e movimentos erráticos do presidente da República no sentido contrário ao de sua cartilha.
Os cem dias de governo parecem estar dando mais ânimo e confiança a Bolsonaro para vôos solo como o da interferência na Petrobras. Não é coisa de um bom militar, que deveria saber a hora de avançar e a hora de recuar, avaliando sempre o potencial de suas tropas. Mas, quando o fracasso sobe à cabeça de algumas pessoas, só nos resta apertar o cintos…