Fabrício Queiroz, o miliciano que trabalhava no gabinete do então deputado Flavio Bolsonaro na Assembleia do Rio e recolhia parte do salário dos funcionários do gabinete, completa hoje quatro meses de sua alta do Hospital Israelita Albert Einstein.
Neste período, Queiroz zombou dos procuradores do Ministério Público e da população em geral. Não compareceu as quatro audiências para as quais foi convidado; em entrevista combinada disse que sua pequena fortuna era fruto da venda de carros; apareceu em um vídeo dançando no hospital e, mais recentemente, enviou um depoimento por escrito ao MP sem pé nem cabeça.
E Queiroz continua solto. Sabe-se lá onde.
Lauro Jardim, de “O Globo”, diz que ele está “em São Paulo em paradeiro desconhecido”.
Paradeiro desconhecido não é necessariamente em São Paulo. Pode ser em qualquer outro local como, por exemplo, a comunidade de Rio das Pedras, no Rio de Janeiro – matriz do comando miliciano, onde Queiroz já explorou o transporte de vans. Pode ser também no exterior, já que nem mesmo o seu passaporte foi recolhido.
Elio Gaspari costuma dizer que o Ministério Público “não tem pressa, tem perguntas”.
Passado todos esses meses, fica claro que pressa os procuradores não tem mesmo.
Se tem perguntas, o que transparece é que eles preferem não fazê-las.
Queiroz, que teria extirpado um câncer do intestino – embora nenhum órgão de imprensa tenha tido a curiosidade, até hoje, de conversar com os médicos que o atenderam – estaria sendo submetido a quimioterapia.
Mas e sua mulher?
E suas filhas?
E os funcionários do gabinete de Flavio Bolsonaro?
Todos devolviam praticamente todo o salário que recebiam para o motorista de araque.
Uma das filhas de Queiroz trabalhava como personal trainer no Rio, e servia no gabinete de Jair Bolsonaro, em Brasília, a 1.200 quilômetros de distância. E não faltou um único dia.
Há meses todos sumiram.
Mas quem banca hoje o sustento dessas famílias?
Afinal, durante todos os anos em que eles serviram como laranjas, nem mesmo uma poupança foi possível fazer.
O que fazem os órgãos de inteligência do governo, especialmente a Polícia Federal e seu comandante o ex-juiz Sergio Moro?
Queiroz depositou um cheque na conta da primeira-dama do país.
Ele empregou assassinos no gabinete do filho do Presidente da República.
Será que nada disso merece uma investigação?
A Polícia Federal, obviamente, nada tem de incompetente. O Ministério Público muito menos.
O que ambos estão aprofundando não é a investigação.
É a seletividade.