Brasília é uma esfinge que devora aqueles que, por desconhecimento ou arrogância, desafiam as leis do poder vigentes em todos os governos. Uma delas estabelece que ministro da Economia – ou Fazenda, como antigamente – não pode ser o principal articulador político do governo, sustentáculo das negociações com o Congresso. Tem que ter anteparos políticos, como tiveram Fernando Henrique Cardoso e Antônio Palocci – só para lembrar duas gestões bem sucedidas na economia.
Paulo Guedes foi abandonado sozinho na cova dos leões da CCJ, e o resultado não poderia ser outro. Saiu de lá chamado de “Tchutchuca”, apelido do qual vai ser difícil se livrar. A base aliada não o defendeu por uma simples razão: ela não existe. E não houve a preocupação mínima do Planalto em escalar deputados do PSL líderes governista, ou o filho presidencial 03, para se inscreverem e fazer contraponto à oposição.
Além de revelar o jogo do Centrão de mostrar, no tranco, que é necessário e obter do Planalto o que deseja, o episódio confirma o erro de dar a Guedes um papel que não é e não pode ser dele. Por melhor e mais jeitoso que seja o ministro da Economia, ele não pode ser o principal canal de interlocução com os políticos na negociação de uma reforma como a da Previdência.
Cada palavra do ministro da Economia sacode os mercados, alerta os investidores, mexe com setores e interesses diversos da economia. Em política, como se sabe, o que mais há são palavras ao vento, que saem das bocas dos líderes e articuladores num dia e depois somem no horizonte. As conversas são provisórias, muitas vezes o palavreado extrapola as regras de cortesia. Mas tudo fica por isso mesmo porque as pazes e entendimentos são feitos no escurinho do plenário ou nas madrugadas dos jantares.
Guedes não pode frequentar o escurinho do plenário, e deve ser comedido nos jantares. Não tem traquejo nas lides parlamentares e corre o risco de ser engolido na próxima esquina.
Além disso, é dono de uma espontaneidade e franqueza elogiáveis, mas que quase sempre o levam ao caminho do “sincericídio”. Não deve ser exposto como ocorreu na CCJ, porque acabará perdendo a aura de autoridade máxima da economia e a capacidade de dar a última palavra nas negociações concretas da Previdência – até porque seu chefe não quer saber muito do assunto.