Há duas convicções hoje no mundo político em Brasília: 1) até o fim do ano, o Congresso terá aprovado uma reforma da Previdência; 2) o projeto de reforma enviado ao Leglslativo pelo Planalto será desfigurado. Entre essas duas certezas, há uma infinidade de possibilidades, e hoje o jogo preferido dos agentes econômicos e demais interessados é fazer apostas sobre o tamanho da reforma que vai sair.
Nunca se viu articulação tão frouxa em torno de uma PEC considerada prioritária pelo Executivo. Passando por cima de razões que vão da confusão política crônica das forças que se elegeram no ano passado ao desinteresse pessoal do presidente Jair Bolsonaro pelo tema, o que se prevê hoje é que a megareforma de R$ 1 trilhão proposta por Paulo Guedes deverá ser bem menor.
Pode, na melhor das hipóteses, acabar reduzida a algo nos moldes do que propunha Michel Temer (economia em torno de R$ 700 milhões), ou mesmo acabar numa versão “pocket”, a vulgar meia-sola. Será suficiente?
Depende. Quando se fala estritamente das contas, há observadores que asseguram que, mesmo uma reforma menor e não tão profunda pode dar alívio fiscal para se atravessar os quatro anos do mandato de Bolsonaro sem quebrar. Outra reforma teria que ser feita pelo próximo presidente – e isso não é nada diferente do que vem sendo feito ao longo dos últimos mandatos presidenciais. Desde Fernando Henrique Cardoso, cada um, inclusive Lula e Dilma, veio fazendo sua reforminha – mesmo imperfeitas, todas avançaram alguma coisa.
O mercado pode não ficar feliz com uma meia-sola, e se aferrará à narrativa de que algo assim não animará os investidores da mesma forma que uma reforma Brastemp como a de Guedes. Dependendo do grau de desidratação, o próprio ministro da Economia pode ficar insatisfeito a ponto de chutar o balde e ir para casa – agravando assim um processo de instabilidade na economia que poderá ter sério impacto político.
É improvável, porém, que a esta altura – quando já se constatou que o projeto de Guedes não passa como está – a Previdência se torne um fator de vida ou morte política para o governo Bolsonaro. O sucesso total na votação da PEC original, hipótese hoje remotíssima, poderia até representar investimentos, retomada econômica e, ao fim de quatro anos, reeleição.
A meia-sola não afundará o governo. Mas, junto com as demais condições de temperatura e pressão por ele produzidas, como a enorme dificuldade de simplemente administrar e tocar as coisas, tampouco ajudará a desenhar um cenário político favorável ao bolsonarismo em 2022.