Apesar de criticar duramente a falta de ideias e de articulação do governo Bolsonaro, o governador da Bahia, Rui Costa, desagradou a cúpula petista com sua afirmação de que “o desgaste do governo não interessa a ninguém”, em entrevista nesta segunda ao Estadão.
As orelhas de Costa devem estar ardendo neste momento. “O governador parece estar em busca de novas amizades. O desgaste do governo interessa, sim, a quase todos os atores que participam da política, inclusive a oposição e amplos setores sociais. Assim é a democracia. Os governos atuam e se desgastam, são obrigados a negociar para manter o apoio a seus projetos. Governos com popularidade altíssima, ainda mais com o perfil de Bolsonaro, correm o risco de se tornar autocratas. Todos, aliados e oposição, empresários, entidades e até a mídia, ficam contentes quando um governo se enfraquece, a menos que fique tão fraco que se inviabilize”, afirma um cacique e ex-ministro petista.
Ciência política à parte, o governador da Bahia não agrada a direção do partido também quando defende a aprovação da reforma da Previdência. Ele participou da reunião e assinou o documento em que os governadores do Nordeste afirmam que só apoiarão a Previdência sem as mudanças no BPC, na aposentadoria rural e sem a desconstitucionalização do tema.
Para alguns, porém, Costa está entre os que vêem o copo da Previdência “meio cheio”, e não “meio vazio” como os demais governadores. Ou seja, é mais favorável a aceitar a reforma do que os colegas do PT. E a ideia inicial de setores do partido de propor mudanças ao projeto, ou uma proposta própria, ficou superada pelos percalços políticos sofridos pelo Planalto.
Agora, os petistas fecharam questão contra a reforma e querem inviabilizá-la por inteiro. O que farão os governadores, não se sabe ainda. E esta talvez seja a principal divisão interna do PT hoje.