Venezuela pós-Maduro será importadora de bens de capital

Enquanto as principais economias da América Latina deixaram de lado a dependência da monocultura, a Venezuela sucumbiu à maldição do petróleo.

Maduro e generais ainda fiéis a ele

O tiro saiu pela culatra. Quando a Venezuela sair da atual crise, o setor público estará de tal forma destruído que jamais poderá ter o monopólio político e econômico que exerceu nos últimos 100 anos.

Este será o resultado da aventura bolivariana do ditador Hugo Chávez e seu sucessor, o sindicalista Nicolás Maduro. O sonho de converter a Venezuela num país socialista à moda antiga será sepultado por um capitalismo inevitável.

Pesadelo bolivariano

Essa expressão de caçadores metaforizada como uma vitória da caça sobre o caçador expressa um erro irreparável. Ao disparar sua espingarda, em vez de o propelente, a pólvora, jogar a carga sobre o alvo, ela explode na culatra, na cara do atirador, que invariavelmente é gravemente atingido, quando não morto. Parece ser o caso da Venezuela dos bolivarianos.

Em 20 anos de gestão do próprio coronel e de seu sucessor Maduro, o modelo de país que vai emergir ao final do grande desastre será exatamente o contrário do sonho bolivariano. Em vez de consolidar o poder do estado em cima dos recursos financeiros da extração e exportação de óleo cru, no final a tendência é que desta crise gigantesca emerja um país diversificado, privatizado, com uma economia plural, no modelo das demais economias sul-americanas.

Monoculturas

Atualmente a Venezuela é último país da região a assentar sua vida sobre um único produto, no modelo dos demais produtores de petróleo do Oriente Médio e África, todos sob a dependência do chamado ouro negro.

Até os anos 1960, desde o período de 1870 até o final da Segunda Guerra Mundial, o padrão dos países da América do Sul era de monocultura de exportação. No Brasil o café representava 80% das cambiais; na Argentina, o tripé carne congelada, trigo e lã; no Chile, o cobre; no Peru, prata e cobre; na Colômbia, café e carvão, e assim por diante.

General Café

Tudo mudou. Hoje o subcontinente oferece outro cenário. No Brasil, naqueles 20 por centos residuais havia minério de ferro, algodão, carne congelada do Rio Grande do Sul, cana-de-açúcar e outros produtos tradicionais. Mas quem segurava o País era o cafezinho dos americanos (a Europa abastecia-se na Colômbia).

Hoje, o Brasil tem mais de 2.000 produtos e serviços na pauta de exportações. A imensa maioria industrializados.

O maior de todos, a soja, mal chega aos 20 por cento com toda sua cadeia, que vai desde a soja em grão até os mais sofisticados óleos; o General Café, como se dizia nos anos 50, duplicou sua produção sobre aqueles tempos, triplicou suas ofertas (verde, solúvel, moído e torrado) e nem chega aos dois por cento.

O Brasil, assim como os demais países sul-americanos, evoluiu e diversificou suas economias, embora todos mantenham ativas e vivas suas grandes âncoras, como soja, carne, cobre e café colombiano, etc.

Mas não a Venezuela.

A Venezuela mantém a mesma economia inaugurada em 1921, quando o então presidente (ditador) Juan Vicente Gomez fechou negócio com os norte-americanos para exportar petróleo. Desde então é a mesma coisa.

Maldição do petróleo

Este modelo, que se mantém nos outros grandes exportadores de petróleo, foi ao chão inexplicavelmente. Um modelo que resiste até em países destroçados por guerras, como o Iraque, sucumbiu na Venezuela. A gestão desastrada dos bolivarianos destruiu aquela economia que, embora simplória, era forte e sólida.

Boa Vista – Refugiados venezuelanos – Foto Antônio Cruz/AgÊncia Brasil

Com a derrocada, quando o País sair da crise, vão emergir novas forças econômicas e a Venezuela deixará de padecer da “Maldição do Petróleo”, título do livro do norte-americano Michael L. Ross. Nessa obra, ele demonstra que os países produtores de petróleo nesses períodos do século XX estagnaram, gerando apenas uma elite corrupta e um paternalismo exacerbado. Como da Venezuela, onde ninguém trabalha e o País não produz nem ovos nem leite para o café da manhã.

Por isto produtores e fornecedores dos países vizinhos estão de olho no desenvolvimento dessa crise. Quando acabar, vão se abrir negócios novos.

Até então a Venezuela era grande importadora de produtos alimentícios e todos os demais itens, inclusive papel higiênico. Com a retomada, quem espera vender para o país que ressurgirá são os fabricantes de bens de capital e fornecedores de matérias primas industriais e insumos para uma agricultura que deverá aparecer nas margens do rio Orinoco.

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