O presidente Donald Trump faz mais uma das suas. Nesta segunda-feira, 18, ameaçou os generais venezuelanos com a miséria financeira caso não abandonem imediatamente o presidente Nicolás Maduro à própria sorte.
Se forem bem-comportados, podem ficar com o que roubaram; caso contrário, serão punidos e perderão seus botins. Fantástico!
Coisas do passado
Antes de analisar o fato em si, não se pode deixar de lado que esta bravata é mais coisa de norte-americano de caricatura do que trapalhada de político despreparado. Como Ronald Reagan, que saudou nosso João Baptista Figueiredo como presidente da Bolívia, Trump poderia dizer, como no passado, que Buenos Aires é a capital do Brasil.
Sua imagem dos ditadores sul-americanos, de certa forma, corresponde à verdade: gordos generais de óculos escuros chefiando uma camarilha no poder. Por trás, empresas e plutocratas.
Isto, no entanto, já passou. Hoje nossos ditadores são originários das lutas sindicais, como Nicolás Maduro e o ameno Evo Morales, ambos eternizando-se no poder.
Os dois vêm de uma nova extração de políticos autoritários. No passado vinham das forças armadas, especialmente de grupos revolucionários que tomavam o poder de armas na mão, destronando os seus antecessores.
Ditadores tupiniquins
Mesmo aqui no Brasil, de nossos seis ditadores, cinco deles vestiam farda. Apenas Getúlio Vargas era paisano, mas vinha da oligarquia rural.
Tal como Vitor Paz Estensoro, da Bolívia, ditador entre 1952 (advogado, chegou ao poder à frente da rebelião dos camponeses) e 1964, voltou ao poder como presidente eleito. Tal qual Vargas.
Ditadores oriundos das lutas sindicais não se registrava, até a chegada de Maduro ao governo, sucedendo um ditador militar, Hugo Chávez. Esses políticos, vindos das tumultuadas assembleias operárias, são duros de roer.
Veja-se o exemplo do ex-presidente brasileiro, Lula da Silva, que, embora não fosse um ditador, tem o espírito de luta e resistência dessa estirpe. Preso e encarcerado, recusa benefícios legais alegando que é inocente, ou seja, que resiste à uma prisão ilegal, desmentindo a máxima de que qualquer prisioneiro aceitaria qualquer coisa para sair de trás das grades.
Daqui não saio
Não se espere que Maduro pegue seu boné e se dirija ao aeroporto tomando um avião para onde se lhe receba como exilado, tal como sugeriu o vice-presidente do Brasil, general Hamilton Mourão. Maduro vai bater o pé.
Não se descarte que somente deixe o Palácio de Miraflores num caixão de defunto. É uma tragédia possível. Talvez mais próxima de um cenário futuro do que uma fuga do País.
Já a proposta do presidente norte-americano sugere que os generais que dão sustentação ao governo de Maduro estariam temerosos de perder seus ganhos ilícitos, enquanto chefes militares desse governo. É a visão estereotipada do governante sul-americano. Todos os governantes são ladrões, civis ou militares.
Mais ainda: Trump dá a entender que sabe direitinho onde os generais guardaram os seus dinheiros. Quem os teria investigado? A Cia? O FBI?
O meu primeiro
A verdade é que, diz Trump, se botarem Maduro para fora, poderão se locupletar sem medo de serem admoestados pelos vencedores. Sua expectativa é que os generais mandem Maduro passear e estendam tapete vermelho para o autoproclamado presidente Juan Guaidó.
Voltando à realidade, o que essas declarações estapafúrdias indicam é que momentos trágicos esperam pelos venezuelanos no futuro próximo. Isto sugere que a solução será pela força bruta, com armas e violência.
As forças de apoio ao governo Maduro, Rússia e China já estão tirando o cavalo da chuva, tratando de receber os atrasados das importações venezuelanas no governo Maduro, descontando as prestações no valor das exportações de petróleo (BNDES não conseguiu ainda salvar o seu). Os bancos dos dois gigantes antiamericanos estão dando sinais de exaustão em seus negócios demasiadamente arriscados com o governo de Caracas.
Fechada a torneira, a Venezuela entra em colapso, pois como país vítima da “Maldição do Petróleo”, não produz nada, importa até ovos de galinhas do Uruguai e de Santa Catarina. Ninguém mais lhe vende a prazo, só à vista, em dinheiro, uma nota em cima da outra.
Nem o Papa salva
A situação é muito complicada. O próprio Papa Francisco recusou-se a entrar no jogo de Maduro, alegando que ele já faltara com a palavra no passado, desmoralizando negociações conduzidas pelo Vaticano.
Na verdade, para o Papa entrar nesse quadro, seria essencial que Maduro se afastasse do poder. Isto, entretanto, ele não aceita, pois sabe que se deixar o Palácio não volta mais.
Com isto, o impasse chega a seu ponto máximo, pois se nem o chefe da Igreja Católica, uma força moral muito poderosa na Venezuela, consegue demover o ditador, quem o fará? Portanto, Maduro vai até o final. Não é uma boa notícia.